terça-feira, 25 de junho de 2024

O FORRÓ DE MANÉ VITO

Não me avisaram que havia um rio no meio do caminho. Embora soubesse nadar com destreza, desisti do meu intento.  Nenhuma festa valia molhar meu sapato novo. Meus amigos me convenceram a tirar os sapatos e atravessar caminhando. O rio era só um córrego, mal batia água no joelho.

Fui.

O risca-faca estava animado ao som da sanfona e da zabumba. O noivo e a noiva dançavam alegres e satisfeitos. O padre bebericava uma dose de milome e até parecia casamento de verdade.

- É de verdade! - me disse um convidado.

- E meu amigo Eliseu resolveu se casar numa visgueira?

- É o único lugar que se pode dançar.

Puxei minha namorada pelo braço e fomos dançar o xote. Mal ensaiamos uns passos, fomos interrompidos por um senhor de bigode a la gaúcho. Em vez de três facas, portava um facão.

- Quero a vorta!

- Hein?

- A vorta!

- Mas eu não tenho volta nenhuma! Nem lhe conheço, cara!

- Então vamos poitá!

- Tá me achando com cara de viado! Eu sou Caçarola, irmão de Tombrega! Vá buscar mais facão que um só não dá não!

O falso gaúcho saiu furibundo, xingando até a minha décima quinta geração. O meu amigo, o noivo, se aproximou e esclareceu:

- Caçarola, se acalme. A volta é dançar com a sua parceira. E você dança com a dele. É costume daqui.

- E poitá? É fazer troca-troca?

- Não. Poitá é conversar na porta.  

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