sábado, 10 de janeiro de 2015

Tempo da Velhice

Segundo Maricas Coxeba, no dia 21 próximo fico a um ponto para gozar do estatuto do idoso. Segundo a minha mãe, a escrivã da minha terra dormiu no ponto, se embebedou com água de pote, e me fez nascer um mês antes. Mas, pelo sim, pelo não, mereço uma poesia a mim mesmo, nenão? Sem falar que depois dos sessenta, além de não pagar transporte urbano, agora também tem cinema de graça. Obááá! Mas, antes de desdenhar da minha idade, lembre-se que o que vale é a idade mental. E nessa, a minha mãe ainda diz: "Meu filho, vê se cresce!"

TEMPO DA VELHICE

Já se falou bastante
Sobre coisas e sobre tudo.
Contudo não se disse tudo
A respeito do Tempo
E da Velhice
Que é o Tempo relativo
E reina absoluto sobre as coisas.

O novo d’agora
É o maduro de mais tarde,
E o senil de amanhã,
Não importando as quantas
Ande o Tempo
(se para frente ou para trás
para esquerda ou direita
para cima ou para baixo)
pois já nascemos velhos.

Um velho elefante africano
De porte físico invejável,
Acorrentado no gran-circo
Inveja a sorte juvenil
Do frágil mosquito
Pousado na tartaruga.

Por sua vez, o mosquito,
(que morrerá de velhice
na semana seguinte),
Ao picar a tartaruga
Em seu pescoço centenário
Sugará o sangue
De uma adolescente.

Que sabe do Tempo o colibri
Na sua conversa com as flores?
E a Rainha Assassina,
Envolta em geléia real,
Dirá ao inditoso Zangão,
Que ele não conhecerá a velhice?

O Tempo da Velhice
Ganha forma em sua plenitude
Quando levamos nossos filhos
Para dar pipoca aos macacos
E eles, inocentes, dizem:
“Painho, o meu sapato apertou!”

Por trás desta inofensiva sentença
Resolvida em uma sapataria,
Manifesta-se a retórica do Tempo
Apertando os invisíveis calos
Da nossa velhice latente.

domingo, 4 de janeiro de 2015

A musa proibida



Vieste pisando macia em pegadas sutis
O meu colo envolveste para meus beijos roubar
Cantaste suaves acalantos para a noite seduzir
E vestir o céu o seu mais áureo luar.

Musa dos meus dezoito anos, assim te fiz em seguida.
Da aurora utópica entre o sagrado e o mundano
Ao léu das dores que consomem a nossa vida
Fizeste do meu coração o teu poeta profano
Para depois tornar-te minha musa proibida.

E hoje, mais do que nunca proibida estás
Como a maçã que expulsou Eva do Paraíso
Nem mais teus anseios me permitem afagar
E devolver à tua boca o teu cálido sorriso.

É como pintar o teu rosto em contornos coloridos
Sem tua hierática face ao mundo revelar
Nem esculpir a profundeza do teu âmago ferido
Pela lanceta contundente do querer amar.

Ou escrever-te  a mais lírica poesia
Sem poder o coração chamar-te de amor meu.
Meu bem-querer que mal nenhum me querias
E quanto bem-querer te quero eu!

Impedido estou de revelar-me por inteiro
Logo eu, o teu mais real e sincero poeta!
E desnudar-te no afã dos delírios passageiros
Dos longos sussurros das nossas almas em festa!

Assim, ó musa proibida, inspiração reluzente
Do meu divagar lascivo e devaneios em chamas,
Abrevio este poema de versos ardentes
Porque não posso abreviar esta dor insana
Da dilacerante presença da tua saudade latente. 

sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

Lá no meu sertão...



O lugar de onde vim
Não passa boi,
Não passa boiada
Em suas estradas
Que não levam
A lugar nenhum.

Tem o horizonte carmim
Do dia curtido no Sol
E as noites refletidas
em gotas douradas de luar.

Esse lugar não é o Nunca,
Pois existe e dou fé.
Nele, habitam homens rudes,
De pele endurecida pelo sol.
Eles não receiam o perigo:
Amansam burro brabo,
Pegam o touro a unha,
Mamam no peito da onça.

São rudes e não brutos.
Carregam no coração solitário
A flecha certeira de Cupido.
Porém a timidez os domina
E eles não conseguem dizer
Uma simples frase
Que os homens de Hollywood 
Dizem nos filmes 
Exibidos na parede da Igreja:
“I love you, baby”,

Um singelo “Eu te amo”
Faz tremer as pernas
E travar a língua
Dos mais valentes.

Recorrem ao simbolismo
Da flor de açucena
Recolhida no matagal.
E as moças de riso brejeiro,
Com orgulho incontido,
Guardam no peito juvenil
A mais pura prova de amor,
Porque diziam os antigos
Que a flor de açucena
É a flor do bem-querer.

E você, minha doce amada,
Que pegou esporas e sela
E domou este vaqueiro,
É a minha flor de açucena
A minha flor do bem-querer
E hei de amar-te até morrer.