Segundo
Maricas Coxeba, no dia 21 próximo fico a um ponto para gozar do
estatuto do idoso. Segundo a minha mãe, a escrivã da minha terra dormiu
no ponto, se embebedou com água de pote, e me fez nascer um mês antes.
Mas, pelo sim, pelo não, mereço uma poesia a mim mesmo, nenão? Sem falar
que depois dos sessenta, além de não pagar transporte urbano, agora
também tem cinema de graça. Obááá! Mas, antes de desdenhar da minha
idade, lembre-se que o que vale é a idade mental. E nessa, a minha mãe
ainda diz: "Meu filho, vê se cresce!"
TEMPO DA
VELHICE
Já se falou
bastante
Sobre coisas
e sobre tudo.
Contudo não
se disse tudo
A respeito do
Tempo
E da Velhice
Que é o Tempo
relativo
E reina
absoluto sobre as coisas.
O novo
d’agora
É o maduro de
mais tarde,
E o senil de
amanhã,
Não importando
as quantas
Ande o Tempo
(se para
frente ou para trás
para esquerda
ou direita
para cima ou
para baixo)
pois já
nascemos velhos.
Um velho
elefante africano
De porte
físico invejável,
Acorrentado no gran-circo
Inveja a
sorte juvenil
Do frágil
mosquito
Pousado na
tartaruga.
Por sua vez,
o mosquito,
(que morrerá
de velhice
na semana
seguinte),
Ao picar a
tartaruga
Em seu
pescoço centenário
Sugará o
sangue
De uma
adolescente.
Que sabe do
Tempo o colibri
Na sua
conversa com as flores?
E a Rainha
Assassina,
Envolta em
geléia real,
Dirá ao
inditoso Zangão,
Que ele não
conhecerá a velhice?
O Tempo da
Velhice
Ganha forma
em sua plenitude
Quando
levamos nossos filhos
Para dar
pipoca aos macacos
E eles,
inocentes, dizem:
“Painho, o
meu sapato apertou!”
Por trás
desta inofensiva sentença
Resolvida em
uma sapataria,
Manifesta-se
a retórica do Tempo
Apertando os
invisíveis calos
Da nossa
velhice latente.