sexta-feira, 15 de abril de 2016

No princípio era o Verbo - Luís Pimentel

     No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Mas logo, logo muitos deuses foram inventados, e a bagunça começou. Deus fez todas as coisas. Fez o céu, a terra, e até a Câmara dos Deputados. Por ali passaram homens bons e ruins, até o dia em que o comando da Casa caiu no colo de um vendilhão dos templos.
     Aí Deus lavou as mãos, porque ninguém é de ferro. 
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     No princípio era o Verbo. O Verbo se fez carne, mas ainda não valia comer o outro vivo (a não ser no sentido bíblico), nem xingar a mãe, e podíamos livremente defender qualquer ponto de vista; até mesmo a permanência do Dunga. Mas tudo foi pro espaço quando o Verbo foi confundido com verborragia.
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No princípio era o verbo, doar-se absoluto, o eterno enigma, fazer e desfazer e refazer as criaturas.
No princípio o amor, os cães sem dono, a terra tida e prometida de silêncios e quereres acreditar em todas as coisas.
Então, o filho foi levado ao alto mais alto do monte e ouviu do pai, ouro nos dentes, a profecia infame e infamante:
     – Um dia, tudo isto será teu!
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     No princípio era o Verbo, e com ele a exigência da concordância (adjetivos pomposos e substantivos cretinos só vieram mais tarde). A concordância exigia respeito ao jogo e às suas regras. Mas não deu certo porque, infelizmente, desde o início dos tempos há indivíduos que não sabem perder.
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“Visitante – A senhora está cansada?
Professora – Muito.
Visitante – A senhora já é muito velha?
Professora – Muito. Muito velha.
Visitante – A senhora era nova quando a escola era nova?
Professora – A escola já era muito velha quando eu ainda era nova.
Visitante – E agora?
Professora – Agora chega. Eu preciso morrer.
Visitante – E a escola? Vai morrer junto?
Professora – Não. Vai continuar envelhecendo. Vá para o seu lugar, meu filho.”
     Da peça “Aurora da minha vida”, de Naum Alves de Souza, o grande dramaturgo que perdemos esta semana.

De gregos e Troianos



     Cheguei a Salvador, na casa do meu irmão Décio - José Décio Guedes - professor pós-doutor (foi assim que ele me ensinou a dizer quando citasse seu santo nome em vão ou para alguma valia desvalida) e o encontrei estudando Grego. Ele estuda apenas pela necessidade de cumprir os vaticínios de nossa mãe: "Estude!", era o que ela dizia a ele nos primórdios dos tempos. Ele, obediente, obedeceu. Já a mim, ela dizia em seu imperativo vaticinal que toda boa mãe deve ter quando cuida da posteridade filial: "Vagabundo! Você não quer nada com a vida!" E se valia da autoridade de um chinelo para que não houvesse segundas interpretações.

     Pois bem: estudando alto e em bom som, o meu irmão fez de mim um atento troiano ouvindo Homero imitar o cego Aderaldo na feira de Caruaru. Só faltou a viola. Perguntei o porquê de ele fazer aquilo comigo, um irmão desatento dos pronomes verbais e veniais, um excluído da Gramática Normativa Brasileira, um douto da malandragem, vivente sem eira nem beira, então ele me respondeu desfilando seus conhecimentos Greco-históricos: "Fi-lo porque qui-lo. Você deixará de ser um bárbaro errante navegante das estrelas! E me obedeça porque senão eu ligo pra mamãe e conto tudo da sua vida pregressa!".

     Chantagem. Só chantagem. Foi e sempre será assim. Desde o dia que ele ouviu a expressão “vida pregressa” dita por alguém de vida pregressa duvidosa, acho que um bêbado do bar de Costinha, uma visgueira que enchia de cachaceiro aos sábados, domingos e véspera de feriado. Qualquer dá cá aquela palha, ameaçava ir às vias de fato: “Vou contar pra mamãe a sua vida pregressa”. E como eu não sabia o que significava vida pregressa, obedecia com a hombridade e altivez dos ignorantes condenados. 

     Capitulei. “Vida pregressa” tornou-se meu Cavalo de Tróia. Senti o gosto da espada de Aquiles trespassando as vísceras de Heitor. Ó, Homero, venha a mim numa manhã de sol cantar meus feitos heroicos! 

     Depois de mais de duas horas ouvindo que as raízes gregas são iguais às raízes brasileiras, diferindo apenas no tipo do solo e na estação do plantio, conforme dizia nosso pai nos estertores do Tempo, saí do apartamento do meu irmão acreditando que poderia operar um milagre em mim sem precisar frequentar igreja evangélica ou fazer promessa a Padim Ciço Romão Batista: aprender Grego por osmose. E dessa minha curta aprendizagem como ouvinte do mais castiço Grego, cheguei à incrível conclusão que em momento algum, nem por imperiosa necessidade, a expressão greco-romana "Atecubanos roma" deverá ser lida de trás pra frente em presença de moças castas ou mulheres pudendas, sob o risco de se ressuscitar Páris, Menelau, Heitor, Ulisses - e todos aqueles guerreiros que se esconderam dentro de um cavalo - , e transformar a sua vida em uma odisseia nada heroica.  

     Assim, como os meus cinco leitores podem observar, de expressão em expressão, estou me desbarbarizando lenta e gradualmente, apesar de ainda usar o palavrão ultra bárbaro “pudendas”. Mas foi por emergência lexical.

sexta-feira, 1 de abril de 2016

Cineas Santos - A descoberta da literatura



            Em São Raimundo Nonato, não havia  bibliotecas públicas. Livros, só os manuais escolares.  Foi num deles -  o Livro de Português, de Aída Costa – que  descobri a literatura brasileira. Entre outros autores, Gonçalves Dias, Alencar, Machado de Assis, Viriato Correia, Olavo Bilac, Alphonsus de Guimaraens (adorável “Ismália”), Vicente de Carvalho, Cruz e Sousa, Bandeira (ainda simbolista) e Menotti Del Picchia, com seu indefectível “Juca Mulato”... Modernismo, nada.
            Aos 15 anos de idade, eu não tinha lido um único romance. Só  folhetos de cordel, fragmentos de crônicas, sonetos e coisinhas do gênero. Dona Purcina, com quatro filhos numa escola particular, não podia comprar livros. Um dia, fez uma extravagância e adquiriu 12 livrinhos: Grandes vultos da história do Brasil. Escritores, só dois: Castro Alves e Rui Barbosa, se não me trai a memória. Aos 16 anos, li Tarzan na Terra dos homens, tradução de Monteiro Lobato, e O Guarani, de José de Alencar.  Na minha santa ignorância, os dois personagens (Tarzan e Peri) eram bem parecidos: viviam no mato e eram imbatíveis...
            Mas antes de me tornar leitor, tentei tornar-me cordelista. Aos 12 anos de idade, instigado por meu irmão mais velho, escrevi umas poucas estrofes de um folheto denominado O namoro de hoje em dia. Curiosamente, eu não havia namorado ninguém e nada sabia de sacanagem. Então, ele entrou com o conteúdo e  eu cuidei da forma. Um folheto a quatro mãos. O trem ficou picante e, empolgado, resolvi mostrar minha “obra”  aos parceiros. Sucesso absoluto. Alguns copiaram estrofes inteiras. Sucesso e perdição. Dona Purcina surpreendeu-me lendo aquela  versalhada porca e não deixou por menos: aplicou-me algumas vergastadas com um cipó de marmeleiro e me mandou direto para o confessionário. Como se pode ver, melhor estreia, impossível.
            Foi com essa extraordinária bagagem cultural que desembarquei em Teresina, em maio de 1965.

terça-feira, 8 de março de 2016

Suíça connection - Sergio Augusto

Operação Paulo Francis levou 17 anos para se concretizar. Lava Jato é só seu nome fantasia

No dia 14 dei uma de Stanislaw Ponte Preta e gozei, no Twitter, o nome dado à Operação Lava Jato, que alguns ainda grafam com hífen. Se não havia na história um avião a jato, nem sequer um prosaico ultraleve a ser lavado, a expressão era descabida. Dada sua clara intenção de conotar uma faxina em regra, como a executada nos carros em postos de gasolina, o nome correto seria “lava a jato”. 

Minha picuinha onomástica, de imediato turbinada pelo Facebook, cumpriu apenas uma parte do seu objetivo: divertir os internautas com mais essa prova de que o Febeapá (Festival de Besteiras que Assola o País), inventado há cinco décadas por Stanislaw, ainda não encerrou suas atividades. 

Indiferente ao flagra vernacular e às gozações nas mídias sociais, a Polícia Federal manteve o nome (e até o hífen) de sua operação, concentrando-se nos afazeres que lhe competem, a fim de evitar bobeadas mais sérias, como os erros processuais que inviabilizaram as operações Castelo de Areia e Satiagraha, e a indevida inclusão de José Carlos Cosenza na petrorroubalheira, que por um triz não comprometeu a limpeza em andamento, àquela altura já com uma extensão: Juízo Final, nome mais que apropriado se as investigações estiverem de fato em seus versículos derradeiros e os condenados, prestes a serem punidos.

Agindo com impressionante competência e rapidez na perseguição aos saqueadores da maior empresa pública do País, a PF tem saldo credor para cometer impunemente mais umas duas ou três mancadas ortográficas. 

Aliás, não me lembro de outra nas mais de 2 mil operações por ela executadas neste século, ora batizadas com nomes de bichos, ora com títulos de filmes, na maioria das vezes com personagens e episódios históricos e mitológicos. Por mais que tentem esconder quem os sugere (o segredo também é a alma do marketing), sabe-se que até 2007 quem com mais frequência o fazia era o delegado Zulmar Pimentel, diretor executivo da PF, afastado do cargo e desterrado para Manaus com a fama de boquirroto. 

Ignora-se quem associou a caça aos envolvidos no escândalo da Petrobras à lavagem de carros. Seja lá quem for, seu maior erro não foi omitir uma preposição e acrescentar um hífen, mas desperdiçar a oportunidade de homenagear quem pela primeira vez alertou publicamente para a rapinagem na Petrobras.

Há quase 20 anos, o jornalista Paulo Francis denunciou, no programa Manhattan Connection, que “todos os diretores da Petrobras” punham dinheiro na Suíça. Apesar do alerta em off de Lucas Mendes (“olha, que dá processo”), Francis não tirou o dedo do gatilho. Referiu-se a um amigo, advogado, que num almoço com um banqueiro suíço ouvira deste o seguinte comentário: “Bom mesmo é brasileiro, porque esses bilionários árabes depositam US$ 1 milhão, US$ 2 milhões, mas uma semana depois tiram. Os brasileiros põem US$ 50 milhões, 60 milhões e deixam”. Segundo Francis, toda aquela grana era fruto de roubalheira, de superfaturamento. 

Novo alerta de Lucas, dessa vez gestual (um discreto tapinha no braço direito), novamente ignorado por Francis, que reiterou sua certeza de que a Petrobras fora dominada “pela maior quadrilha” em atividade numa empresa pública brasileira. 

Lucas suspeitou certo: deu galho. Não contra a quadrilha vagamente apontada por Francis (o que só poderia ocorrer se o então presidente da Petrobras, Joel Rennó, tivesse mandado investigar a procedência das acusações e as tivesse comprovado), mas contra o próprio acusador. 

Sem provas concretas para substanciar sua denúncia, Francis acabou processado por Rennó, no foro de Nova York. Um processo impagável de US$ 100 milhões, ao qual o jornalista ainda se referiria em outra edição do Manhattan Connection, quando citou nominalmente o presidente da Petrobras e acusou os diretores da estatal de tentarem intimidá-lo e silenciá-lo. 

Nesse programa, houve um diálogo quase cômico entre Lucas e Francis. Ao ouvir o colega afirmar que, dos “três porquinhos” que dirigiam a Petrobras, conhecia apenas o presidente, “um rapaz gordinho” que comia “nos melhores restaurantes de Nova York”, Lucas quis saber se já haviam comido juntos alguma vez. “Infelizmente, já”, respondeu Francis, simulando um engulho. 

Se Francis errou ao dizer o que disse sem provas materiais, o presidente da Petrobras não podia tê-lo processado nos Estados Unidos por coisas ditas numa televisão brasileira e jamais transmitidas fora do Brasil, embora gravadas num estúdio nova-iorquino. Muito menos envolvendo uma indenização que, hoje sabemos, só os petrogatunos teriam condições de pagar com seu butim, guardado aqui e lá fora. 

Mesmo ciente de que perderia o caso, o presidente da Petrobras esticou o litígio até onde pôde. Queria infernizar o jornalista, e como dispunha de recursos ilimitados para cozinhar o processo, manteve-o em banho-maria, para discreto constrangimento do presidente Fernando Henrique Cardoso, que tampouco se empenhou em esclarecer se as imputações de Francis tinham ou não fundamento.

Rennó afinal venceu a parada. Mas não nos tribunais. 

Estressado e deprimido pela milonga judicial, Francis morreu de um ataque cardíaco, em 4 de fevereiro de 1997. Na Folha de S. Paulo do dia seguinte, Elio Gaspari encerrou seu comentário com esta observação: “Dizer que o processo do doutor Rennó o matou seria uma injustiça piegas, verdadeira estupidez. O que aconteceu foi outra coisa. O doutor Rennó conseguiu tomar uma carona no último capítulo da biografia de Paulo Francis. E, se algum dia Rennó tiver biografia, terá Paulo Francis nela. É difícil que consiga fazer coisa melhor, sobretudo à custa do dinheiro da viúva”.

A Operação Paulo Francis demorou 17 anos para se concretizar. “Lava-Jato” é apenas seu nome fantasia.

domingo, 28 de fevereiro de 2016

Flores Mitológicas

No início do novo milênio achei eu de andar por esses grupos de literatura, que, à época, eram os canais sociais dos pseudo-escritores. Havia muita gente boa, gente mais ou menos, e muitos que se achavam o bam-bam-bam do pedaço, mas com o incrível defeito do "eu só me basto". Foi num desses grupos que Mário Prata escreveu o livro "Os anjos de Badaró". Ou melhor, escreveram para ele.
Um desses "metidos" resolveu atravessar o meu caminho, numa "metidez" sem limites, então lhe respondi em forma de poesia:




FLORES MITOLÓGICAS

Para os caçadores de métrica e bajuladores de riqueza vocabular
Em detrimento da dialética platônica e da singeleza melódica da poesia.
.

Que queres tu, ególatra e mitológica criatura,
Que por mim indagas sem o querer saber?
Refutas servil antes da pergunta acontecer
Avocando o inepto direito da brilhantura.

Como os hematófagos habitantes das cavernas
Tramando o golpe às suas vítimas inocentes,
No anonimato da noite limam os seus dentes
Em generosos pescoços e suas veias externas.

Assim é teu proceder na traição aos teus pares
Na arrogância nefasta aos morcegos outorgada
Anomalia soturna na cintilante noite aviltada,
Por salivas e presas de palavreados vulgares.

Ó, Narciso, ao teu umbigo não ousas olhar!
O espelho é a tua fascinação mais íntima;
Aos amigos, a mudez das palavras ínfimas
E o lúgubre refrão “só vivo para me amar”.

De Baudelaire, envio-te as flores do mal,
De Ginsberg, presenteio-te um sonoro uivo.
Tu, que recusas olhar para o próprio umbigo,
Deixo-te Dante com sua viagem infernal.

Oferto-te um buquê de rosas rubras dialéticas
Cingidas em chumbo das balas dos canhoneiros
No último combate dos corsários aventureiros,
Dissimulados no silêncio da amplidão internética.

Dou-te o cravo vermelho usado na lapela
Do teu fétido e infecto paletó mortal,
Compondo as flores do teu vil funeral
De carpideiras mordazes de tez amarela.

Ofertarei uma moeda de bronze por esmola
Quando o esquife em cortejo por mim passar
Assim poderás ao barqueiro do Hades pagar
A lúgubre travessia levando-te, de vez, embora.

As veredas que deixaste não importam mais,
Nem as flores dos Guimarães por ora maltratadas,
Rosas silvestres, melancolicamente despetaladas,
Orquidácias negras remanescentes das Gerais.

Este é o meu réquiem embalando tua catatonia,
Confortando tua negra alma no barco de Caronte
Antes do encontro final com diabos monocerontes
A quem prestarás contas das arrogantes vilanias.




quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Professora

Uma professora confessou-se indignada por causa dos dicionaristas tecerem loas ao professor (o homem) e não dar o mesmo tratamento honroso à professora (a mulher). Indignação justa, por sinal, pois, enquanto dão muito destaque ao masculino, a coitada da professorinha é tratada no cacete lexical. O Aurélio e o Houaiss afirmam com todos os efes e erres que o verbete "professora" é "prostituta com quem adolescentes se iniciam na vida sexual". Isso no Nordeste, destacam. O Caldas Aulete dá um refresco na pauleira: "A que ensina instrução primária e as prendas próprias do seu sexo: Professora de corte, de costura."

A gente nunca presta atenção em certos detalhes nos dicionários, pois só recorremos a eles no masculino. E nos damos por satisfeito. É o caso dessa palavra tão erroneamente execrada pelos coxinhas: "Presidenta". Aí misturam com "estudanta" e outros termos que esqueço no momento. Só porque vamos aos dicionários e procuramos no masculino. Se nos dermos ao trabalho de procurar no feminino, veremos que elefante não é dono de circo. E que a anta não é a presidenta.

Voltando ao começo da história, pesquisei em mil puteiros virtuais de onde se originou essa acepção pejorativa para as coitadas das professoras, e não soube de notícia de nada. É como a desonestidade de Lula: por mais que o juiz Moro procure, não encontra nada.

Confesso a vocês que a minha iniciação sexual se deu com uma professora. Uma estagiária, a bem dizer. Ela era tão provocante que tive que antecipar o meu aprendizado sobre masturbação. Mas tenho a mais absoluta certeza de que não foi isso que ocasionou a conotação depreciativa pelos dicionaristas. Mesmo porque sempre trouxe esse segredo guardado a sete chaves, nem mesmo ao padre confessor da minha primeira comunhão eu ousei contar tão íntimo segredo.

Pesquisando por aí, encontrei que na Grécia antiga a iniciação sexual dos meninos era feita por um homem mais velho, chamado pedagogo. Ele ensinava as manhas do sexo aos adolescentes para não fazerem vergonha na noite de núpcias, tal qual ensinou o meu avô a um seu irmão, apesar de nunca ter ouvido falar dos costumes dessa tal Grécia antiga:

- Não tem como errar. É um lugar cabeludo. Pode ir que é tiro e queda.

O meu tio-avô não contou conversa na hora do ora-veja. Apagou o candeeiro e caiu em cima da minha tia-avó, que aguardava ansiosa no colchão de capim seco. Depois de coberta pelo macho, ela chiou meio decepcionada:

- Aiiiii!... Aí é o meu sovaco!

(Não, não! Esse caso não serve para justificar o que fizeram com a “professora”. Mas mata a pau o “professor”.)

Em algumas tribos norte-americanas o rito de iniciação sexual se dá através da penetração anal feita por um tio. Acham que, com o rabo cheio de sêmen, os garotos serão homens férteis. Ainda bem que nasci bem longe dessas tribos, mas conheço gente que adoraria ter nascido lá.

Lá no Junco, berço da humanidade sertaneja, a iniciação se dá pela prática de se encostar a jumenta no barranco e mandar brasa. Vez ou outra o dono da jega dá flagrante e obriga o pai do garoto a pagar um saco de milho. Ou até mais.

Mas há lugares no Nordeste em que o menino só vira homem depois que molha o pavio em uma fêmea. Quando o garoto entra na puberdade, o pai o leva para o puteiro, para aprender o bem-bom da vida. Como se trata de um aprendizado prático, com aula cem por cento presencial, talvez venha daí a alcunha de “professora” para as mulheres de vida fácil, que de fácil não tem nada. Tal qual a vida das professoras.

Não sei se servirá de consolo à indignação da pessoa em tela, mas no sertão nordestino o jumento também é chamado de professor. Só não sei se é pela imensidão fálica ou pela teimosia quando empaca.