quinta-feira, 28 de março de 2013
ONDE CANTA A ACAUÃ: A Paixão de Cristo em Nova Jerusalém
ONDE CANTA A ACAUÃ: A Paixão de Cristo em Nova Jerusalém: Fazenda Nova, Pernambuco, a um passo de Caruaru e a quatro horas de Maceió. É lá que fica Nova Jerusalém, o maior teatro ao ar livre do mund...
Fera Ferida
“O
desamor é o espelho do orgulho ferido”
Konde
Rasputin d’Latra Véia
Como
não me lembro d’ocê, menina!? Você fazia aquela dieta radical para entrar na
garrafa e emagreceu tanto que usava Band-aid como absorvente íntimo. Eu
brincava com a fragilidade delgada do seu corpo quando lhe via desnuda e dizia “Se
engordar vinte quilos fica magra!”, e você ria feliz, e me abraçava, e me
beijava, e me amava, e dizia que eu era o Antonio Conselheiro da sua Canudos e que
me amaria para sempre, mesmo que o Exército da República me destroçasse em mil
pedaços nos seus canhões, e eu lhe respondia fazendo toc-toc na mesa das utopias:
“Vira essa boca pra lá!”, e você me calava com um beijo e dizia: “Bobo!”, porém
quis a mão do Destino me mostrar que o sempre só durou até o toque das cornetas
em prenúncio de massacre, e você foi embora com o capitão inglês, sangrando meu
coração com a baioneta do abandono, submergindo meu peito num açude de lágrimas,
indiferente ao último apelo de um náufrago das ilusões desnudas:
-
Por favor, deixe ao menos os discos de Elomar!
domingo, 24 de março de 2013
Os alquimistas estão chegando
-
Hoje eu vou lhe mostrar o efeito da cachaça no organismo – falou o médico ao
seu paciente, um bêbado inveterado.
Sob
o olhar atento do paciente, pegou um copo duplo, colocou cachaça até o meio,
pegou um ovo cozido, descascou e colocou dentro do copo com a cachaça. O ovo
começou a reagir com o álcool e, cinco minutos depois, estava completamente
preto. O bêbado olhava a alquimia de olhos arregalados.
-
Está vendo, meu amigo, o que o álcool faz?
O
paciente coçou a cabeça, olhou para o médico, olhou para o copo, voltou a olhar
para o médico e falou num fio de voz:
-
Doutor, eu juro ao senhor que nunca mais vou comer ovo quando estiver bebendo!
O Evangelho Segundo Tõe d’Irineu
Naquele tempo, dirigiu-se Jesus ao templo e todo o povo
veio a ele. Os escribas e os fariseus trouxeram-lhe uma mulher que fora
apanhada em adultério. Puseram-na no meio da multidão e disseram a Jesus:
- Mestre, agora mesmo esta mulher foi apanhada em
adultério. Pela Lei de Moisés, devemos apedrejá-la. Que dizes tu a isso?
Queriam pôr Jesus à prova, porém Ele se inclinou para frente,
escreveu com o dedo na terra e disse-lhes:
- Quem nunca errou que atire a primeira pedra!
A multidão calou-se. Um bêbado pediu licença, aproximou-se
da adúltera e tascou uma pedrada bem no meio da testa. Jesus olhou surpreso e
incrédulo para o bêbado e perguntou asperamente:
- Você nunca errou?
- Dessa distância, não – respondeu o bebum.
quinta-feira, 21 de março de 2013
Cineas Santos - Deseducar é fácil
O prof. Marcílio Farias, de saudosa memória, afirmava
publicamente: “O problema da escola não são os alunos; são os pais dos alunos”.
Não era simples desabafo: Marcílio tinha uma relação bastante amistosa e
cordial com a molecada do IDB; com
os pais, não. Na semana passada, presenciei uma cena que parece ter sido
concebida para dar razão ao educador. Na fila de um dos caixas de um
supermercado de Teresina, um casal muito jovem se fazia acompanhar de uma
menininha, de uns três anos de idade, linda como a claridade da hora. Enquanto
os dois passavam as compras, a menina afastou e, ao regressar, trazia uma
revistinha colorida. Iniciou-se o seguinte diálogo: “Pai, vou levar esta”. O
pai, sem se dignar a ver a revista, disparou: “Revista, não”. “Pai, por favor,
eu quero esta” - insistiu a garotinha. “ Eu já disse que não e não e não!”-
berrou o pai. A menina fez beicinho, ensaiou cara de choro. O pai propôs:
“Troque a revista por outra coisa”. Um
sorriso de vitória estampou-se no rosto da criança: “O quê, pai?”. “Algo gostoso”, afirmou o cidadão. “Pode ser Halls?”- indagou a menina. “Pode, sim,filha”.
A menina pegou um pacote de pastilhas, sabor morango, correu até o pai que lhe
estendeu a mão aberta para um tapinha cúmplice.
Esperei o casal afastar-se e fui conferir a publicação que a
menina queria levar para casa. Era a “Revista de atividades Barbie – desenhos e
brincadeiras”. Comprei a revista para conferir-lhe o conteúdo. Nada de extraordinário:
jogo dos sete erros; ajude o personagem tal a encontrar o caminho de casa e
muitos desenhos da bonequinha aliciante para serem coloridos. De “brinde”,
quatro tabletes de tinta (vermelho, verde, azul e amarelo) à base d’água e um
pincelzinho de plástico. Resolvi conferir também as pastilhas que a garotinha levou,
com a cumplicidade do pai: “bala dura, sabor artificial de morango e eucalipto,
colorida e aromatizada artificialmente”. Comparei os dois produtos e cheguei à
conclusão de que, ruim por ruim, a menininha ficou com o pior: açúcar e
aromatizantes artificiais. A revistinha serviria, pelo menos, para melhorar-lhe
a coordenação motora; as balas, na melhor das hipóteses, só lhe acarretarão
algumas cáries.
Foi aí que me ocorreu a lembrança de um texto de
Saint-Exupéry (Terra dos Homens, se
não me trai a memória) no qual ele relata a viagem que realizou num trem carregados de agricultores russos. Homens e mulheres
miseráveis, arruinados pelo trabalho extenuante e pelo consumo de álcool. De
repente, o piloto-escritor viu, no colo de uma camponesa rota, uma bela criança
que dormia sossegadamente. Contemplou-a e, comovido, perguntou-se: “Quanto
tempo será necessário para que este pequeno Mozart se transforme num simples
saco de batatas?”. Ao alinhavar esta crônica, não resisti à tentação de
perguntar: quanto tempo será necessário para transformar aquela menina linda numa
gorduchinha devoradora de açúcar? O tempo, senhor de tudo, terá a resposta.
Quanto a mim, tenho apenas a certeza de estar me metendo em assunto que não me
diz respeito.
quinta-feira, 14 de março de 2013
Luís Pimentel - A volta do Velho Graça
Na verdade, é a volta de quem jamais
esteve ausente. No 60º aniversário de sua morte, Graciliano Ramos – um dos
maiores escritores brasileiros (em minha modesta opinião, o maior), para quem
escrever era, antes de tudo, cortar palavras – volta a ser tema de seminários
em universidades, tem volumes de sua obra reeditados e, glória das glórias
midiáticas, daqui a pouco será o homenageado da Flip 2013. Não é pouco.
Quer dizer, ainda é pouco. Mas é bom. É
sempre bom constatar que o Velho Graça não está esquecido. Num país onde se
esbarra com um escritor em cada esquina, quando a fogueira das vaidades vive a
incendiar corações e mentes, vale sempre
a pena a gente recorrer ao mestre, que passou a vida a desconfiar de tudo e de
todos, sobretudo dele mesmo.
Graciliano Ramos interrompeu e
retomou inúmeras vezes o ótimo Angústia (1936),
imaginem, por não enxergar ali qualquer valor literário (como também não
enxergava nos anteriores, Caetés,
1933, e São Bernardo, 1934, que o
projetou no cenário literário, mereceu adaptação histórica para o cinema, com
Othon Bastos e Isabel Ribeiro nos principais papéis, e direção de Leon Hirsman
(Vidas secas também foi adaptado e
filmado pelo hoje imortal da ABL Nelson Pereira dos Santos). Ali desponta o
narrador rigoroso, de períodos curtos e contundentes, linguagem crua, magra e
fria, contando a história do fazendeiro Paulo Honório:
“Aqui nos dias santos surgem viagens,
doenças e outros pretextos para o trabalhador gazear. O domingo é perdido, o
sábado também se perde, por causa da feira, a semana tem apenas cindo dias e a
Igreja ainda reduz. O resultado é a paga encolher e essa cambada viver com a
barriga tinindo”.
Não há uma palavra fora de lugar.
Graciliano Ramos correu atrás de bode,
trabalhou em balcão de armazém, vendeu tecidos, foi professor, instrutor de
ensino, prefeito em Palmeiras dos Índios (AL), preso pelo Estado Novo sob
acusação de comunismo (a experiência de cadeia mais valiosa do mundo, pois ao
mundo legou Memórias do cárcere,
publicado no ano de sua morte) e mais tarde até comunista. Mas jamais precisou
de coerência partidária para exibir, ao longo da vida, coerência e apego ao
povo mais necessitado do seu sertão ou encontrado por ele nas inúmeras pensões
por onde viveu no Rio de Janeiro.
Viveu da palavra. E para ela. Usem todas
as palavras possíveis para homenageá-lo.
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