O Ouro, a Prata, o Cobre e o Níquel se associaram ao crime organizado, sequestraram o Oxigênio e ameaçaram destruir a família Ferroso lançando bombas letais de O2. Desbaratada a quadrilha metaleira numa fantástica ação batizada de “Operação Ferrugem” pela PF, sob o comando da delegada federal Helô e investigação conduzida pelos repórteres do Fantástico, o único elemento a ser preso sem direito a sursis nem à Lei Fleury foi o famigerado Carbono, que não fazia parte do Grupo e tampouco se inseria na história. Motivo alegado para a prisão: foi o único preto que a diligente delegada encontrou na Tabela Periódica.
terça-feira, 15 de outubro de 2013
sábado, 12 de outubro de 2013
Cineas Santos - Das sutilezas semânticas
Para
o meu gosto, das árvores floríferas da Chapada do Corisco, o ipê-branco (Tabebuia roseo-alba) é a mais nobre e a mais bela. Infelizmente, apesar dos
esforços do João Freitas Filho, ainda é inexpressiva a quantidade dessa espécie
em Teresina. Como não existem árvores velhas, tudo faz crer que este variedade
de ipê ainda está em fase de adaptação. Ao contrário do amarelo, perfeitamente
aclimatado à aridez da Chapada, o ipê-branco tem se revelado frágil e
vulnerável. No ano passado, pelos menos cinco ipês morreram sem que se saiba
exatamente a causa. Dos que plantei, dois não vingaram. Um “especialista”
explicou que ocorreu um “estresse climático”. Falta-me autoridade para confirmar ou contestar.
Este ano, para
alegria dos olhos mais atentos, no final de setembro, um ipê-branco, plantado
pelo Dr. Anfrísio Neto no jardim do edifício onde mora, explodiu em flores. Um dilúvio de beleza, diria um poeta medíocre. Uma senhora que
passava pelo local, não se conteve: “Meu Deus, um pé de árvore de Natal!”. Sem
uma folha, o ipê vestiu-se de branco durante uns três dias. Avisado por uma
amiga, fiz uma dezena de fotos e publiquei-as onde pude.
Finda a
florada, tentei falar com o jardineiro do edifício para saber como garantir
alguma das preciosas sementes. Não consegui. Só me restou uma opção: “botar
sentido” na árvore à espera das sementes. Por oportuno, vale lembrar: os
ipês-brancos são meio sovinas. Para minha surpresa, houve também uma explosão
de sementes que foram lançadas prodigamente ao vento. Munido de um saco plástico,
plantei-me na calçada e comecei a garimpagem das sementes que o vento levava
para longe. Em cada semente colhida, eu vislumbrava um ipê embelezando uma nesga
da nossa sofrida cidade. As pessoas passavam, olhavam para se certificar e,
como naquela música do Chico, uns
sorrindo faziam pouco, outros me tomavam
por louco... Indiferente ao rugir dos automóveis, eu catava as sementes com
uma indescritível alegria.
Lá pelas
tantas, passou um conhecido, cidadão de fino trato. Ao me ver agachado na calçada, parou o
automóvel e disparou: “Procurando o quê, professor?”. Sementes
de ipê, respondi. A resposta não lhe pareceu satisfatória: “O que o senhor
vai fazer com elas?”, quis saber. Vou
plantá-las. O cidadão voltou à carga: “Professor, me desculpe a curiosidade,
mas o que o senhor ganha com isso?”. Resolvi bancar o sabido: eu e a cidade ganharemos a possibilidade de
fruir,anualmente, a nossa efêmera ração de beleza. O cidadão sorriu, balançou a
cabeça negativamente e afirmou: “O senhor é um poeta, professor”. Levantou o
vidro do carro e seguiu em frente. Sei não, mas pela forma como ele pronunciou
a palavra “poeta”, tive a impressão de
que não era exatamente um elogio...
quarta-feira, 9 de outubro de 2013
Luís Pimentel - O gandula que comeu a bola
Mais
de meia hora de jogo, e a bola não saíra, uma vez sequer, pela linha de fundos.
Tinha escapado inúmeras vezes pelas laterais, o que já estava irritando aquele
gandula que trabalhava atrás do gol. Logo naquele dia, coitado, que o irmão
mais velho assistia ao jogo da geral, só para vê-lo atuar mais de perto.
Por
isso o menino gritava com os atacantes que chutavam daquele lado, toda vez que
a bola rondava a área:
– Chuta aqui, seu pereba! Chuta logo essa porcaria!
Esbravejava
com os zagueiros quando evitavam as finalizações do adversário, e xingava o
goleiro, toda vez que este fazia uma defesa:
– Bota
pra escanteio! Bota pra escanteio!
Finalmente a bola desviou em alguém
e escapuliu pela linha de fundos, quase no final do primeiro tempo. O menino
correu até o fosso em volta do campo, pegou a bola com as duas mãos, abraçou,
alisou e rolou com ela pela grama.
O gandula estava
visivelmente se exibindo para o irmão, alheio aos gritos dos torcedores, dos
jogadores e até do juiz. Todos esperavam apenas que o gandula fizesse o seu
trabalho, para que o jogo pudesse recomeçar.
– Devolve
essa bola, moleque insolente! – berrou o dirigente do time que estava
perdendo o jogo.
– Vem até aqui pegar! –
desafiou o menino, correndo de um lado para o outro com a bola debaixo do
braço.
O dirigente chamou os
auxiliares e os seguranças. Veio também a polícia, para engrossar a
perseguição, diante dos gritos da torcida que, a essa altura, torcia pelo
gandula, rindo e aplaudindo a sua aventura.
Quando se viu finalmente
acuado em um canto, espremido entre o pau da bandeira e o muro do fosso de
proteção, o gandula tirou um pequeno canivete do bolso e começou a cortar a
bola, gomo após gomo, colocando de um em um na boca como se fossem bifes bem
finos.
Mastigando, engolindo e
dando boas gargalhadas diante de seus perseguidores.
Do
livro de contos “O gandula que comeu a bola”, no prelo da Editora Dimensão
sábado, 5 de outubro de 2013
De baiano para acreano
- Marina Silva culpa os baianos pela não aceitação do seu partido pelo TSE?
- Por quê?
- Os ministros do Superior Tribunal Eleitoral entenderam que haveria perto de cem por cento de abstenção na Bahia nas próximas eleições.
- Não entendi...
- É que os baianos iriam ficar na Rede.
sexta-feira, 4 de outubro de 2013
Dias de Santo Pobre e de Riqueza Explícita
“Senhor, dai-me força para mudar o que pode ser mudado,
Resignação para aceitar o que não pode ser mudado,
E sabedoria para distinguir uma coisa da outra.”
Resignação para aceitar o que não pode ser mudado,
E sabedoria para distinguir uma coisa da outra.”
São Francisco de Assis
Hoje, o mundo cristão comemora o dia de São Francisco
de Assis, o primeiro ecologista do mundo, padroeiro dos animais e do meio
ambiente.
Nascido Giovanni di Pietro di Bernardone na cidade
italiana de Assis, criou-se na malandragem e no mau costume da burguesia. Antes
de ser tocado pela luz do Divino, tentou ser soldado, foi à guerra, lutou,
matou, foi preso, depois tentou ser comerciante, desistiu, vendeu algumas
mercadorias do pai a preço de banana e o dinheiro arrecadado usou na
reconstrução da igreja de São Damião. Acusado pelo pai de dissipador de sua
fortuna, tirou sua roupa e jogou aos pés do mesmo, renunciou à sua fortuna e saiu
nu mundo afora para trabalhar de pedreiro em reconstrução das igrejas.
Em 1208, relendo os Evangelhos, renunciou a vida de
devoto e abraçou a de missionário, fundando a Ordem Mendicante dos Frades Menores,
os hoje Franciscanos.
A primeira Regra para a fundação de sua Ordem,
chamada Regra Primitiva, pregava a pobreza absoluta dos monges e da Ordem.
Deviam viver conforme viveram Jesus e seus apóstolos. Mas os construtores da
Igreja da Ordem Terceira de São Francisco de Assis, em Salvador, Bahia, Brasil,
parece-me, que eles de nada sabiam da vida de pobre do santo. Construíram uma
igreja de manifesta riqueza, com suas paredes folheadas a ouro, mais para o palácio
de um sultão do que para servir aos propósitos de Cristo e do seu próprio
patrono, que mereceu até indicação para uma das 7 Maravilhas do Mundo. Os
serviços oferecidos em nada lembram os votos de pobreza dessa Ordem. Cobram
preços exorbitantes por qualquer dá cá aquela missa ou batizado. Casamento?
Somente para a Real Sociedade Soteropolitana.
Enquanto isso, o padroeiro de Salvador, o xará São
Francisco Xavier, é totalmente humilhado numa capelinha espremida pela opulência
de outros santos maiores nas redondezas do Terreiro de Jesus, e quase ninguém
sabe onde fica.
Se você é baiano ou turista devoto de São Francisco
de Assis, procure outra igreja do santo franciscano para rezar. Em Salvador
existem varias, devidamente dentro dos parâmetros econômicos e sociais da Ordem
Primitiva. Rezar na Igreja da Ordem Terceira de São Francisco é perder tempo e
jogar oração fora.
São Francisco de Assis se encontra em qualquer
canto, menos naquele monumento de agressiva ostentação.
sábado, 14 de setembro de 2013
Cineas Santos - Viagem à poesia via cordel
Eu teria uns
seis anos de idade quando a poesia pousou no meu terreiro. É escusado dizer que
eu não sabia que “aquilo”era poesia, mas
depois de ouvir a tia Odete cantar (isso mesmo) a história de uma onça,
impiedosamente caçada nas caatingas do nordeste, afirmei emocionado: quando crescer, quero fazer isso. Desasnado
por dona Purcina, aos 8 anos, eu já estava acompanhando as peripécias do
valente Zé Garcia no folheto de João Melquídeas. Como, em matéria de livros, só
dispúnhamos dos folhetos de cordel, li todos os que me caíram às mãos. Aos doze
anos, instigado pelo irmão mais velho, resolvi escrever um folheto de sacanagem
denominado “O namoro de hoje em dia”. Uma obra a quatro mãos: ele entrava com o
conteúdo, cabendo a mim cuidar da forma. O folheto não chegou a ser publicado, mas
me rendeu uma surra conversada. Dona Purcina não deixava para depois o que
podia fazer na hora. Comecei bem a minha carreira
literária...
Na terceira
série do curso ginasial, paguei o maior mico da minha vida: a professora de
português me surpreendeu lendo “A chegada de Lampião no inferno”. Pegou o
folheto e, depois de exibi-lo com uma
pontinha de asco, afirmou: “Custa crer que um aluno de terceira série perca
tempo lendo isso. O que temos aqui? Linguagem vulgar, erros grosseiros,
bobagens”. Sem hesitar, jogou o meu folheto pela janela. À época, os
professores podiam tudo...
Já em
Teresina, abri o Dicionário Escolar do Silveira Bueno e me deparei com essa
joia de verbete: “Literatura de cordel -
aquela de pouco ou nenhum valor literário, vendida nas feiras do nordeste”.
Bem, uma coisa era a opinião de uma professorinha de São Raimundo Nonato;
outra, bem diferente, a de um filólogo de nomeada. Parei com a leitura de
folhetos. Parei por pouco tempo: quando li “Morte e vida Severina”, de João
Cabral de Melo Neto. Não me contive: isso é um cordel áspero com rimas toantes. Bem
mais tarde, li “Descoberta da Literatura”, onde o poeta, a seu jeito, confessa
que descobriu a literatura lendo folhetos para os trabalhadores dos engenhos da
família. Pensei comigo: se o severo e
competente João pode, por que eu não poderia?
Em 1976,
publiquei, com o pseudônimo de João José Piripiri, o folheto “Vida de
Nordestino” que, ainda hoje, me agrada. Em 1983, lancei “ABC da Ecologia”,
tentativa de disseminar entre meus alunos noções de preservação ambiental. O
folheto criou asas, voou, foi editado pelo IBAMA, pela Secretaria de Educação
de Pernambuco, pela Prefeitura de Teresina. 30 anos depois de sua primeira
edição, o ABC, com roupa de gala, com o selo da Editora IMEPH, está de volta ao
mercado. Entre outras novidades, o livro traz verbetes com animais ameaçados de
extinção.
Acho que
está mais do que na hora de agradecer à velha Odete a oportunidade que me
propiciou de penetrar no mundo mágico da poesia por meio da literatura de
cordel.
quinta-feira, 12 de setembro de 2013
AULA DE ANATOMIA
A médica foi clara e objetiva ao me explicar onde ficavam o fígado e o baço. Com as pontas dos dedos pressionou o lado direito do meu abdome e falou;
- Aqui, fígado.
Pressionou o lado esquerdo e falou de maneira tão singela e inocente que quase não resisto à tentação de lhe dar um beijo:
- Cá, baço.
- Aqui, fígado.
Pressionou o lado esquerdo e falou de maneira tão singela e inocente que quase não resisto à tentação de lhe dar um beijo:
- Cá, baço.
quinta-feira, 5 de setembro de 2013
Antonio Brasileiro - Teatrinho
Não
quero ser Chapeuzinho Vermelho mais não.
Por
que, filhinha?
Não
gosto que o Lobo Mau me coma.
Mas
o Caçador não vai matar o Lobo?
Vai...
E
não vai tirar você e a Vovozinha da barriga do Lobo?
Não
gosto.
Mas
é só um teatrinho, filha.
Não.
Você
decorou tão bem o seu papel.
Aninha
vai.
Ah,
Aninha vai então substituir você.
Mas
eu vou dizer uma coisa a ela.
O
que assim?
Aninha,
não fale nada com o Lobo Mau, viu?
Mas
ela tem que falar com o Lobo Mau. Na história verdadeira ela conversa com ele.
Mas
ela não vai falar nada!
Tudo
bem, tudo bem. E como é que a história vai prosseguir?
Não
sei.
O
Lobo Mau vai ficar lá, parecendo um pateta: “Aninha, fale, o que é que você
tem?” É isso?
Mãe,
você é tão engraçada.
E o
que é que Aninha vai dizer?
Aninha?
“Ah, seu bobão, você pensa que vou lhe dizer onde a Vovó mora?”
“Não
vai não? Então eu vou lhe comer.”
Mãe
não come filha.
“Eu
não sou mãe. Eu sou Lobo!”
“Ai!
Eu falo.”
“Muito
bem. Como é seu nome, menina?”
“Chapeuzinho
Vermelho.”
Está
vendo? Você interpreta tão bem.
“Lobo
Mau, você está querendo é me enganar.”
Eu,
filha?
(Antonio
Brasileiro – Do livro “O menino no guarda-roupa”)
Não confundam Antonio Brasileiro com Antonio, o Brasileiro, ou com seu xará famoso, Tom, o Jobim, também conhecido por Antonio Brasileiro. Este de que vos falo, agora, é mais competente do que os outros, embora a mídia não divulgue, porque, além de poeta, é nordestino legítimo. Quando Sarney era presidente e ia pro rádio e tevê falar "Brasileeeeiroooo!", ele levantava o braço e gritava feliz para a turma que assistia novela na Praça Senhor dos Passos: "O presidente tá falando di mim!"
Tal qual meu bróder Luís Pimentel, também nasceu num lugar que ninguém sabe onde fica, chamado de Matas do Orobó, e acabou sendo criado nas ruas de Feira de Santana. Só não sei dizer se também foi gandula do Fluminense de Feira, o famoso Touro do Sertão.
Romancista, contista, poeta, artista plástico, membro da Academia de Letras da Bahia, bom de prosa, excelente camarada, ainda encontra tempo em seus contratempos para ser professor, fodido e mal pago, como se diz no linguajar pop da gurizada de Feira de Santana e Alagoinhas.
No mais, é só gozar do prazer de seus textos. Entre numa livraria qualquer e compre um ou dois, ou três, dos seus mais de quinhentos livros. Os livros dele, apesar de não ser da linha editorial da autoajuda, também funcionam assim. Um cidadão no interior do Ceará, descrente da vida, da religião, de Padre Cícero e da política, resolveu se suicidar. Na hora de pôr a termo o gesto fatal, alguém leu pra ele este poema:
CÁLICE
A vida não tem roteiros,
só velas que nos acenam
do mar.
Escuta, amiga,
o desfiar das horas:
elas te dirão é tua
é tua a vida.
Toma-a (como se toma
um cálice de rosas)
na mão.
O suicida deu dois passos atrás e desistiu de morrer. Hoje é um dos maiores leitores do poeta desse lugar chamado Matas do Orobó.
Não confundam Antonio Brasileiro com Antonio, o Brasileiro, ou com seu xará famoso, Tom, o Jobim, também conhecido por Antonio Brasileiro. Este de que vos falo, agora, é mais competente do que os outros, embora a mídia não divulgue, porque, além de poeta, é nordestino legítimo. Quando Sarney era presidente e ia pro rádio e tevê falar "Brasileeeeiroooo!", ele levantava o braço e gritava feliz para a turma que assistia novela na Praça Senhor dos Passos: "O presidente tá falando di mim!"
Tal qual meu bróder Luís Pimentel, também nasceu num lugar que ninguém sabe onde fica, chamado de Matas do Orobó, e acabou sendo criado nas ruas de Feira de Santana. Só não sei dizer se também foi gandula do Fluminense de Feira, o famoso Touro do Sertão.
Romancista, contista, poeta, artista plástico, membro da Academia de Letras da Bahia, bom de prosa, excelente camarada, ainda encontra tempo em seus contratempos para ser professor, fodido e mal pago, como se diz no linguajar pop da gurizada de Feira de Santana e Alagoinhas.
No mais, é só gozar do prazer de seus textos. Entre numa livraria qualquer e compre um ou dois, ou três, dos seus mais de quinhentos livros. Os livros dele, apesar de não ser da linha editorial da autoajuda, também funcionam assim. Um cidadão no interior do Ceará, descrente da vida, da religião, de Padre Cícero e da política, resolveu se suicidar. Na hora de pôr a termo o gesto fatal, alguém leu pra ele este poema:
CÁLICE
A vida não tem roteiros,
só velas que nos acenam
do mar.
Escuta, amiga,
o desfiar das horas:
elas te dirão é tua
é tua a vida.
Toma-a (como se toma
um cálice de rosas)
na mão.
O suicida deu dois passos atrás e desistiu de morrer. Hoje é um dos maiores leitores do poeta desse lugar chamado Matas do Orobó.
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