Por Luiz Andrioli
Quando o meu pai me perguntou o que eu queria ser quando crescesse, eu respondi, na lata: palhaço. Ele deu risada. Aí eu percebi que estava no caminho certo.
Uma vez, ainda criança, fui ao circo e ganhei um saquinho de pipoca. Esvaziei-o e coloquei nele um punhado de serragem para deixar embaixo do travesseiro. Assim eu podia sonhar com o circo sentindo o seu aroma. Na escola, um professor me disse:
- Já que você gosta tanto de circo, porque não foge com ele?
Na hora eu fiquei quieto e também não tive coragem de fugir. Nem precisava. Na verdade foi o circo que fugiu comigo. Existe dentro de mim um trapezista corajoso, um malabarista, um mágico, dois ou três equilibristas, uma linda bailarina, aquele punhado de serragem, um picadeiro e uma arquibancada fazendo festa.
Hoje eu sei que, por baixo de toda maquiagem, existe um palhaço triste – e é desta tristeza que o artista arranca sorrisos da plateia.
O circo me ensinou a ser muito prevenido. Sempre carrego uma bolinha vermelha de colocar na ponta do nariz. Para usá-la quando a vida fica séria demais.
Sobre o Novo Colaborador
Luiz Andrioli é escritor e jornalista. Atuou oito anos como repórter de televisão. Trabalha atualmente como apresentador, locutor e diretor artístico de TV. Pós-graduado em Cinema e mestrando em Literatura. Professor universitário e ator profissional. Como escritor, teve várias peças encenadas por grupos de teatro de Curitiba, dentre elas, “Não só as Balas Matam” (2001). Autor da biografia “O Circo e a Cidade – histórias do grupo circense Queirolo em Curitiba” (Editora do Autor, 2007). Para crianças, escreveu “A menina do Circo” (Pró-infanti Editora, 2009). O seu site [ www.luizandrioli.com ] encontra-se linkado neste blog.
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