segunda-feira, 15 de março de 2010

O Centro das nossas desatenções

Por Edna Lopes


De Centro de Maceió



Quando qualquer morador ou visitante da cidade de Maceió, capital das Alagoas, tem necessidade de se dirigir a alguma rua do centro da cidade, em especial as que margeiam o centro comercial, passa por uma série de obstáculos. Precisa estar mesmo necessitando ou imbuído de espírito aventureiro, pois enfrentará desde ruas esburacadas, calçadas idem, esgoto a céu aberto, lixo por todo lado, mau cheiro, meninos e meninas visivelmente drogados e pedintes que se misturam aos trabalhadores da economia informal, que lotam as calçadas com seus produtos.

E o mais grave: se a “aventura” for à noite, colocará sua vida em risco, pois, como um cenário de filme de terror, a Maceió central é a imagem do abandono, do descaso. Além dos problemas já citados, trechos completamente às escuras e nenhum tipo de segurança. Enfim, um lugar que desestimula o convívio. Deseduca.

Esta semana, saindo de uma atividade de trabalho, quase ás 18h, tive a infeliz ideia de voltar para casa de ônibus, como o faz boa parte da população que trabalha e estuda naquela área. Confesso que o trajeto de menos de 500 metros se multiplicou por mil e tive que falar sério com o meu Anjo da Guarda.

Confesso também que, mais do que assustada, fiquei indignada com o quadro lamentável de desrespeito aos moradores e comerciantes daquele bairro. Francamente, nem cenário de filme de quinta categoria é de tanta decadência. E os que certamente vão querer me lembrar que aquela área está assim por conta da obra do VLT (veículo leve sobre trilhos), não perca seu tempo, pois há dois anos vivi situação semelhante vindo da Rua das Árvores até o Teatro Deodoro, no mesmo horário.

Os bairros centrais de todas as cidades são recheados de historia, de memórias afetivas. O traçado das ruas, os monumentos, os tipos populares e Maceió não é diferente, porém a desatenção é tão gritante que a gente custa a acreditar que os órgãos competentes para cuidarem dessa e de qualquer situação relativa à infraestrutura da cidade sejam tão incompetentes.

E, pensando em educação, em espaços que educam, o que pode oferecer como espaço educativo um bairro que é um escombro? Como as escolas poderão se utilizar pedagogicamente de lugares assim, tão deseducados, tão sem infraestrutura, tão feios e tristes?

A quem interessar possa, em especial as autoridades, Maceió não é só praia, que não são lá essas coisas de bem cuidadas. Certamente os moradores que suportam esse estado de desatenção e desrespeito recebem em suas casas o CARNÊ DO IPTU e pagam suas taxas e outros impostos.

Nota da Autora: O CENTRO DAS NOSSAS DESATENÇÕES (cantos do Rio) é título de um livro do escritor Antonio Torres sobre o Centro do Rio de Janeiro, pela editora Relume Dumará, 1996. Autor premiado, com várias edições no Brasil e traduções em muitos países, Antônio Torres é um dos nomes mais importantes da sua geração, com um obra expressiva que abrange 11 romances, um livro de contos, um livro para crianças, um livro de crônicas, perfis e memórias, além de dois projetos especiais (O centro das nossas desatenções, sobre o centro do Rio de Janeiro - e que rendeu um documentário para a TV Cultura, São Paulo -, e O circo no Brasil, da série História Visual, da Funarte, Fundação Nacional de Arte)

“O que é uma cidade educadora?

É aquela que converte o seu espaço urbano em uma escola. Imagine uma escola sem paredes e sem teto. Nesse espaço, todos os lugares são salas de aula: rua, parque, praça, praia, rio, favela, shopping e também as escolas e as universidades. Há espaços para a educação formal, em que se aplicam conhecimentos sistematizados, e a informal, em que cabe todo tipo de conhecimento. Ela integra esses tipos de educação, ensinando todos os cidadãos, do bebê ao avô, por toda a vida.”

Resposta de Alicia Cabezudo – Educadora argentina para a SINAPSE da Folha

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