quinta-feira, 22 de julho de 2010

As três notas musicais - Luís Pimentel



De O trio



A técnica do Nogueira

Conta o folclore da música brasileira que o grande e compositor João Nogueira cumpria temporada de shows pelo Nordeste do Brasil, quando atendeu pedido de entrevista de uma estagiária de jornal.

Pergunta da moça:

– João, como você consegue cultivar essa voz tão sua, tão marcante, tão impostada e ao mesmo tempo tão suave? Que técnica você usa?

Resposta do malandro:

– Muito conhaque, muita cerveja e cigarros Hollywood à vontade.

João Nogueira, um dos maiores cantores da MPB em todos os tempos, nasceu no Rio de Janeiro, no bairro do Méier, no dia 12 de novembro de 1941. Aos 27 anos gravou sua primeira composição: Espera, oh nega. Três anos depois, entrou para a ala dos compositores da Portela e teve músicas gravadas por Elizeth Cardoso e Clara Nunes.

Um dos maiores defensores do gênero, na década de 1970 fundou o Clube do Samba. Parceiro, entre outros, de Paulo César Pinheiro, entre suas composições mais conhecidas estão Nó na madeira, Espelho, Um ser de luz e Clube do samba. Morreu no ano 2000.

Quem foi Adiléia?

Com esse nome, talvez ninguém identifique: Adiléia da Silva Rocha mais tarde trocou o nome para Dolores Duran. Dolores nasceu em 1930 e começou a carreira artística ainda menina – e ainda Adiléia – no popularíssimo programa Calouros em desfile, pilotado pelo já famoso compositor Ary Barroso, na Rádio Tupi. Estreou com nota máxima, caiu na simpatia do pouco simpático Ary e voltou para casa com um prêmio de 500 mil réis e o sonho de virar cantora profissional. Tinha 12 anos.

Da rádio, Adiléia – já Dolores – pulou para o Teatro Carlos Gomes, onde participou do elenco das peças infantis Mãe d´água, Primavera, O gaúcho e Aladim e a lâmpada maravilhosa. Cantora de voz doce e cálida, Dolores Duran foi também excelente compositora, como provam os destaques de sua obra Se é por falta de adeus, A noite do meu bem, Castigo e Fim de caso. Morreu vítima de um infarto fulminante, no dia 23 de outubro de 1959.

O gato do João

São inúmeras e variadas as notas do folclore envolvendo o cantor, compositor e super-instrumentista João Gilberto. A mais repetida em mesas de bar é a do gato. Dizem que João, morando sozinho em Nova Iorque, trancou-se no estúdio para preparar novo disco. Sozinho, não. Havia o gato do João.

Contam ainda que João trancou porta e janelas do estúdio, e durante 17 dias e 17 noites, sem parar para ir sequer à padaria, tocou seu fabuloso violão, sem parar, sem parar, sem parar, em busca dos arranjos cada vez mais redondos, do acorde cada vez mais perfeito. E o gato ali, sentadinho na cadeira, ouvindo, ouvindo, ouvindo.

Pois contam também que, finalizado o trabalho, João Gilberto finalmente escancarou as janelas. Era um décimo terceiro andar, mas o bichano não quis saber: atirou-se pela janela, para a morte que a livraria de tantas melodias.

João Gilberto, gênio inconteste e admirado pelos grandes nomes da MPB, considerado por muitos o pai da bossa nova, nasceu em Juazeiro (BA), em 1931. Quando gravou seu primeiro disco, em 1958, seu estilo de cantar, intimista, contrastava com tudo o que se fazia na época em termos de música. Influenciou cantores como Gal Costa e Caetano Veloso, que na década de 1960 iniciavam suas carreiras. Alguns de seus grandes sucessos são Chega de saudade, Bim-Bom, Samba de uma nota só e Desafinado.

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