De Ipês no Centro de Teresina |
A exemplo das crianças que, em dezembro, tentam vãmente encurtar os dias para apressar a chegada do Natal, mal se inicia agosto e já começo a espichar os olhos pela vastidão da Chapada à procura dos esplendentes ipês amarelos. Não seria exagero afirmar que uma das razões que me fizeram sentar praça em Teresina foi justamente os ipês; a outra,as mulheres... Com exceção dos recém-plantados (transplantados) pela Prefeitura de Teresina, sei a localização de cada um deles. Vou um pouco além: lembro-me até de alguns que nem existem mais. Para citar apenas um exemplo, ainda sinto saudades de um ipê frondoso no cruzamento das avenidas Pernambuco com 1º de Maio, no bairro Primavera. Cortaram-no para construir um conjunto habitacional pavoroso que, ironicamente, foi batizado com o nome de “Condomínio Ipê” como se o rótulo pudesse substituir a árvore.
Certa feita, depois de uma palestra para estudantes de uma escola pública, na periferia da cidade, um dos moleques me perguntou: “O que posso fazer para melhorar minha cidade?”. Respondi de batepronto: Plante um ipê, meu filho. Hoje, daria a mesma resposta, com mais ênfase. Se, em vez de fícus, algodoeiro, acácia, neem e outras plantas exóticas, cada teresinense plantasse um ipê, Teresina, nesta época do ano, seria a cidade mais bela do mundo, a custo zero!
Mas há, entre os ipês que iluminam a cidade, um que, por sua localização e generosidade, merece referência (leia-se reverência) especial. Trata-se do Imperador da Chapada, título por mim conferido ao ipê plantado pelo prof. Carlos Pires Rebelo, de saudosa memória, no cruzamento das ruas Coelho Rodrigues com 1º de Maio, no centro de Teresina. Árvore relativamente nova – tem menos de 40 anos de idade, parece que sempre esteve ali, oferecendo beleza aos olhos dos transeuntes. Já a fotografei dezenas de vezes. Como quem presta reverência à própria Natureza. Todos os anos, sento-me à sua sombra para ser acariciado pelas flores que caem.
Numa dessas ocasiões, testemunhei um incidente que me deixou profundamente triste. Cumpria meu ritual, quando uma manada de estudantes passou pelo local. Eram rapazes e moças, alegres e ruidosos. Trotando como búfalos, passaram pelo tapete de ouro que cobria a calçada com selvagem indiferença. Nenhuma das meninas agachou-se para pegar uma flor e enfeitar o cabelo. Desencantado, escrevi uma crônica denominada Os Novos Bárbaros. Em contrapartida, domingo passado, prestava minha reverência ao Imperador, quando presenciei uma cena que me encheu de alegria e esperança. Uma jovem mãe chegou com sua filha, uns três anos de idade, sentou-a no tapete amarelo e passou a fotografá-la. Compenetrada, a menininha fazia poses engraçadas. Para não as perturbar, retirei-me silenciosamente. Não tenho dúvida: tendo a sensibilidade adubada com generosas porções de beleza, aquela criança poderá crescer mais atenta ao que a vida nos oferece graciosamente. Assim seja.
Um comentário:
Prezado Professor Cineas,
Parabéns pela crônica sobre os ipês que tornam Teresina ainda mais bela e que ,com suas flores, "acariciam" os que sabem admirá-los.
Um abraço ,
Rita (A natureza se faz presente)
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