domingo, 7 de novembro de 2010

Bem-vinda, Mayara - Jairo Costa Júnior


Mesmo com essa manifestação que ganhou a grande rede na ressaca eleitoral, é certo que as crias da boa São Paulo continuarão a encher o Verão e o Carnaval da Bahia




Duvido que algum baiano tenha ouvido falar de Mayara Petruso antes que ela alimentasse um preconceito que, até então, pensava-se escondido nas mansões quatrocentonas dos Jardins paulistanos. Assim como duvido também que a moça represente o pensamento daquele povo ordeiro, trabalhador, gentil e que, junto com os nordestinos que ela quer afogar na primeira inundação do Tietê, ajudam a mover o Brasil para além dos twitters e facebooks da vida.
Mas, duas coisas merecem atenção nos 15 bytes de (má) fama conquistados pela tal. A primeira é culpar o povo, que como ela deve pensar, tem a cabeça chata e a barriga vazia, pela escolha de Dilma Rousseff para a Presidência. Se assim fosse, imagine o que ela acha, então, de seus conterrâneos que nos empurram goela abaixo, a cada eleição, figuras como Tiririca - vejam só, um cearense! E que ainda arrastam, com seus milhões de votos, o que há de mais espúrio na política nacional. Pior que tá, fica, sim senhora. 
A segunda é tentar proliferar um ódio que só existe no cadinho mais atrasado e provinciano de uma São Paulo em nada parecida com os caracteres de péssimo gosto e português deficiente da twitteira preconceituosa. A cada ano, a Bahia recebe de braços abertos centenas de milhares de paulistas, que vêm curtir nossas praias e trocar conosco as alegrias do bom viver. As daqui e as de lá. 

Conheço muitos deles. E em nadinha se assemelham com o que Mayara tenta nos fazer crer que são a verdadeira mentalidade de São Paulo. Não nos odeiam e nem querem nos odiar, mesmo com mobilizações xenofóbicas, veladas ou não. No máximo, gozam de nosso sotaque arrastado, da nossa suposta lentidão, da mesma forma que rimos da deselegância discreta de suas meninas e dos caras de tênis e meia no centro da canela assando-se sob o sol na tentativa de parecer um pouco mais filhotes de Gabriela. 
Definitivamente, Mayara não vai conseguir que nós - paulistas, baianos ou paulibaianos - nos odiemos. Até porque, caso ela não saiba, São Paulo nada mais é que filho do Nordeste. E olhe que não falo sobre os milhões de “famintos” que carregam aquele estado nas costas. E sim dos que saíram das bandas de cá do litoral brasileiro para vitaminar São Vicente, a semente que gerou a árvore frondosa com nome de outro santo. 
Mesmo com essa manifestação que ganhou a grande rede na ressaca eleitoral, é certo que as crias da boa São Paulo  continuarão a encher o Verão e o Carnaval da Bahia. É certo também que serão recebidos na boa, sem qualquer nesga do rancor que a moça tenta propagar. O convite vale para ela. Garanto que o máximo de risco que Mayara vai correr será uma pegada mais vigorosa de um filho de Gandhy interessado em trocar saliva por colares. Coisa que, asseguro, a fará esquecer a estúpida ideia de nos afogar.

Artigo Publicado em 03/11/2010 no jornal Correio da Bahia.
Jairo Costa Júnior é colunista do Jornal Correio da Bahia 
Jairo Costa Júnior | Redação CORREIO
jairo.junior@redebahia.com.br

 

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