segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Deu no Correio Braziliense em 28/10/2010


 Uma homenagem ao amigo Ibys Maceioh (camisa azul, na foto)


Com entrada franca, roda de choro encerra 5º Festival Nacional de Choro


As nuvens choravam, mas a aproximação da sala na Unip onde iniciava a oficina em Brasília do 5º Festival Nacional de Choro não suscitava uma amplificação da melancolia. A sonoridade alegre da polca lundu Ora veja, do filho de Pirenópolis Antonio da Costa Nascimento (1837-1903), o Tonico do Padre, iluminava o dia nublado nos acordes do piano, bandolim, violão, cavaquinho, pandeiro e da flauta. “A polca é a mãe do choro, casou com o lundu”, ensina em tom jocoso o professor deste último instrumento da Escola Portátil de Música, Toninho Carrasqueira.

Embora alguns pesquisadores justifiquem o nome do gênero a um tom choroso, para Luciana Rabello, que ensina cavaquinho, a explicação de Luís da Câmara Cascudo é a mais provável: o termo teria surgido do “xolo”, baile típico dos escravos nas fazendas. O fato demonstra a origem mestiça do choro, que em si promove misturas entre vários tipos de valsa, o schottisch, a habanera, o maxixe e o tango brasileiro, entre outros.

Fortemente ligado à “cidade dos pianos”, epíteto para a capital do país na época da sua disseminação em meados do século 19, o gênero agregou mais tarde bandolim e pandeiro. Mas, “toca-se com o instrumento que se tem”, enfatiza Luciana, primeira mulher a participar de conjunto regional e gravações profissionais em um que fosse de “base instrumental” e não essencialmente solista. A musicista garante: “O choro é patrimônio do Rio de Janeiro e de todo o Brasil, e em breve será da humanidade”.
“História mágica que só tem som”, de acordo com Carrasqueira, a música não foge à métrica das quatro frases de quatro compassos em que a terceira é o clímax e a última apenas “termina para concluir”, num vaivém gradual que desvela um efeito de crescendo acumulado. E, após a conclusão, cabe “a vírgula”, a breve respiração silenciosa que deixa tudo em suspenso por um instante.

O aluno Luciano Marques, violonista em bares de Rio Verde (GO), onde mora, conta que o aspecto mais “dançado e balançado” faz de Ora Veja, de Tonico do Padre, composição mais fácil de se interpretar e afirma ser o terceiro festival seguido de que participa — só não veio no ano passado porque não houve, devido à falta de patrocínio.

Iniciativa da Escola Portátil, que há 10 anos vem, entre outras atividades, ministrando oficinas pelo Brasil com o intuito de divulgar e preservar o choro, o festival chega à sua quinta edição neste ano com abrangência inédita e realizações simultâneas aqui, em Porto Alegre e Belo Horizonte. Hoje, às 15h, haverá um concerto de encerramento com a participação de alunos e professores na Unip.

5º FESTIVAL NACIONAL DE CHORO
Roda de choro de encerramento da oficina, com a participação de professores alunos do evento, na Unip (SGAS 913, Cj. B). Entrada franca. Classificação indicativa livre.



Um comentário:

Anônimo disse...

Parabéns e felicidades a todos que divulgam o belíssimo Choro.
Agradeço por esta aula valiosa.
Um abraço,
Rita Jankowski