Fim de ano é tempo de viagem, principalmente no mês de janeiro, por isso escrevo sobre um oásis artificial no meio da caatinga nordestina: a barragem de Xingó. O acesso a ela pode ser feito por três lugares: Canindé de São Francisco, em Sergipe, Paulo Afonso, descendo o rio de catamarã, ou pela cidade histórica de Piranhas, em Alagoas.
Piranhas é uma das cidades históricas do Nordeste, às margens do Rio São Francisco, na divisa de Alagoas com Sergipe, distante trezentos quilômetros de Maceió, porém, para as operadoras de turismo baseadas na capital alagoana, é como se ficasse do outro lado do planeta: simplesmente ignoram esse filão turístico-histórico-arquitetônico.
O descaso começa pela própria Secretaria Estadual de Turismo, que não mantém nenhum serviço de atendimento ao turista na região nem divulga a beleza do lugar. Nem mesmo na Sala de Visitantes da Chesf (Companhia Hidrelétrica do São Francisco), um pouco antes da barragem de Xingó, cuja parada é obrigatória para o turista que queira visitar a parte interna da barragem, ninguém sabe informar sobre o que acontece na parte externa dos imensos paredões. Se sabem alguma coisa, não fazem a mínima questão de passar adiante.
Cheguei lá, não por informação dos alagoanos, mas por matéria publicada no Caderno de Turismo do jornal “A Tarde”, de Salvador. Porém a matéria omitia informações importantes e fundamentais para o conforto mínimo do turista: a falta de estrutura básica, como restaurantes e hotéis.
Para o turista avulso e acidental como foi o meu caso, me instalei na cidade de Delmiro Gouveia, e lá, fiz o meu centro de operações, vez que fica perto de Xingó, Piranhas e Paulo Afonso, havendo transporte regular de “Van's” a cada vinte minutos para essas cidades.
Delmiro Gouveia deve sua importância histórica à Fábrica da Pedra, primeira indústria da região nordestina e que desafiou o monopólio britânico na industrialização de linhas de algodão, cuja versão não oficial, dá conta do assassinato do industrial Delmiro Gouveia, em 1917, como crime de mando da Coroa britânica, por ele ter desafiado o poderio econômico de Sua Majestade. Deve-se a ele, também, a construção da hidrelétrica de Angiquinhos, na cachoeira de Paulo Afonso, a primeira hidrelétrica construída aproveitando a energia da queda d'água.
Piranhas se localiza a vinte quilômetros de Delmiro Gouveia. São duas cidades: Piranhas Nova, construída no planalto, ao nível da barragem de Xingó, e Piranhas Histórica, a cidade remanescente da cheia do São Francisco, em 1989, que destruiu metade da cidade. A Piranhas Histórica é rica em seu patrimônio arquitetônico, encravado nas rochas e tendo como cenário as tranquilas águas do Rio São Francisco à saída das turbinas da hidrelétrica, e os cânions formados ao longo do seu leito. Existe um mirante natural, de uns cinquenta metros de altura, ampliando a visão do horizonte.
Na cidade há também o Museu do Cangaço, aberto diariamente das oito às dezoito horas. É lá que funciona a Secretaria de Turismo de Piranhas, mas ninguém sabe dar informações a respeito do lugar ou de qualquer evento cultural. Indicaram a Prefeitura como ponto de informação turística e, na Prefeitura, indicaram o Museu.
Não existem hotéis nem restaurantes; apenas duas pequenas pousadas. O transporte ligando as duas cidades é feito por moto-táxi, cujo ponto de apoio localiza-se na entrada de Piranhas Nova.
Na outra margem do Rio São Francisco localiza-se a cidade de Canindé de São Francisco, mais estruturada por ter sido uma cidade planejada com a represa, vez que a Canindé primitiva ficava às margens do Rios São Francisco e foi engolida pelo lago de Xingó. Fica a um pouco mais de duzentos quilômetros de Aracajú, em pleno coração da caatinga, e nela está o Xingó Parque Hotel, bem estruturado, mas, por ser o único, dá vontade de chorar na hora de pagar a conta. É este hotel o responsável pela organização do passeio de catamarã, com duas opções: diariamente e duas vezes ao dia, cruza a imensidão do lago artificial e navega em contracorrente pelos cânions do rio até as proximidades da barragem PA- 4, em Paulo Afonso. O ponto de partida é no Bar Flutuante, um bar, restaurante e atracadouro na barragem de Xingó, feito com imensos cilindros flutuantes. O outro passeio é programado apenas duas vezes na semana e o embarque é feito cerca de um quilômetro depois da descarga das turbinas. O barco segue a correnteza do Rio São Francisco, passando por Piranhas, adentrando outros cânions e aportando em Angicos para um passeio pela trilha do cangaço, onde Lampião, Maria Bonita, e mais nove cangaceiros tiveram suas cabeças cortadas a facão.
Em ambos os passeios é preciso fazer reserva no Hotel Xingó. Contudo, para quem perdeu a reserva ou chegou de última hora, existe a opção de se fazer outro passeio de barco pelo espelho d'água da barragem, parando para um banho entre uma muralha de cânions, a uma profundidade de 80 metros, onde existe uma plataforma flutuante e é obrigatório o uso de coletes salva-vidas durante o banho. Ficam vários guarda-vidas de prontidão na plataforma. A reserva para essa excursão é feita no Bar Flutuante e há dois passeios diários: às onze e às quinze horas. O embarque e desembarque são feitos no atracadouro do próprio bar. A capacidade do barco é de 150 passageiros, fora a tripulação. A desvantagem é que essa excursão não sobe o leito do rio, em direção de Paulo Afonso, como o catamarã.
Caso o caro leitor esteja interessado em participar de um passeio à região, sugiro que faça através das operadoras de turismo de Aracaju, que fazem excursões regulares para Xingó e Paulo Afonso. Também pode obter informações pelo e-mail: mariojorgeturismo@yahoo.com.br. Ou então seguir direto para Paulo Afonso e desfrutar de toda sua estrutura de atendimento ao turista, e, uma vez lá, participar das excursões diárias pelas barragens e cidades históricas ribeirinhas. Uma sugestão é visitar a casa das máquinas das usinas PA-2 e 3, oitenta metros dentro da rocha, e conhecer, in loco, a gigantesca transformação da energia que gera o progresso na Região Nordeste.
Paulo Afonso é um oásis em um deserto de rochas e cânions, paraíso das águas represadas, e o mais novo “point” dos amantes e praticantes dos esportes radicais, principalmente o rapel. Mas, essa aí, é uma história para outro dia de prosa.
4 comentários:
Faz alguns anos que eu estava pronta para essa viagem, inclusive já estava paga. No entanto de um dia para outro minha irmã foi parar em uma UTI onde ficou por 101 dias e aí a viagem gorou. Bom ler sobre o assunto que reviveu meu interesse. (Merô)
Rapaz. A três semanas fui a Xingó e achei a cidade espetacular. Reservei a pousada antes e gostei muito. E até onde melembro são 5 pousadas em Piranhas. Falta sim algum serviço por parte do Poder Público, no entanto não fiquei com fome em piranhas (comi um belo peixe na beira do rio), não fiquei sem beber e não fiquei sem dançar pois no largo principal de piranhas há 4 bares que funcionam com música ao vivo, bebidas e música de qualidade. Talvez você nao tenha aproveitado a cidade como um turista deve aproveitar.
Abraços.
Júlio, você deu sorte, pois quando fui só havia duas pousadas (informação fornecida pelo pessoal do Museu do Cangaço) e nenhum restaurante funcionando. Almocei na Piranhas nova. Bares, havia sim.
Abraços.
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