Corria o ano da graça de 77 e, apesar da ditadura, imperava entre nós a crença na “salvação” do planeta, na iminência de uma luminosa revolução cultural e, principalmente, na construção de um mundo mais justo e mais fraterno. Sonhos juvenis, irrealizáveis, mas necessários. Movido por esse desejo de mudanças, juntei um grupo de jovens – Paulo Machado, Fernando Costa, Alcide Filho, Rogério Newton e Margarete Coelho – e decidimos construir uma ponte cultural entre Teresina e o sertão do Piauí. Amontoados num velho fusca verde-sonho, iniciamos nossa peregrinação por São Raimundo Nonato onde, anualmente, realizava-se uma semana universitária. Levamos uma bela exposição do pintor Fernando Costa que, sozinha, falava mais que a nossa arenga de pregadores. Animados com os resultados, fomos a Oeiras, Floriano e já nos preparávamos para ir a Corrente, quando a gasolina do fusca acabou. Como não éramos financiados por ninguém, encerramos nossa errática aventura na vizinha cidade de José de Freitas.
O projeto durou pouco, mas as sementes foram lançadas em terreno fértil. 34 anos depois, aqui estamos lançando o CD A Cara Alegre do Piauí – a celebração da amizade. Hoje, com mais de 30 integrantes, o Cara Alegre pode orgulhar-se de sua trajetória festiva e consequente. Percorremos praticamente o Piauí inteiro, de Teresina a Guaribas, ensinando, aprendendo, convivendo, compartilhando. A filosofia do projeto continua a mesma: o saber não compartilhado é inútil. Para mim, é motivo de orgulho coordenar uma caravana que conta com a participação de figuras do porte de Raimundo Nonato Monteiro de Santana, Fonseca Neto, Paulo Machado, Erisvaldo Borges, Maristela Gruber, Luíza Miranda, Rosinha Amorim, Wilker Marques, Vanda Queiroz, Carlos Martins, Carla Fonseca, Gabriel Archanjo, Adriana Medeiros, Josafá,Catarina Santos,Geni Costa, Graça Vilhena,Agostinho Ferraz, Margareth Leite, Jeferson Barbosa, Rosinha Pereira, Gílson Fernandes, Tânia Martins, Antônio Amaral, Sid Ribeiro, Ilza Bezerra, Vagner Ribeiro, Wanya Sales, Josué Costa, Beto Boreno, Gílson Caland, Adelino Frazão, entre outros.
O nome do projeto foi sugestão do professor e poeta Fernando Ferraz que, com um argumento irrefutável, nos convenceu: “Ao longo dos séculos, o Piauí sempre se mostrou triste, pobre, acanhado. O máximo que conseguimos foi a piedade de alguns e o escárnio de outros. É hora de mostrarmos a face alegre e luminosa do nosso estado: a cultura e a arte que dão brilho à nossa existência”.
Por oportuno, vale lembrar: o projeto continua com as portas abertas. Para integrar a caravana, basta disposição para servir e alegria de compartilhar. Vinde, pois, “que a messe é muita e os trabalhadores poucos”.
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