domingo, 12 de junho de 2011

Luís Pimentel - Folguedo Junino

Nascido e criado no interior nordestino, sempre curti festa junina. Natal, carnaval, as folias santas ou profanas todas ficavam em segundo plano. Era no São João que o meu coração pulava fogueiras, bigodinho feito a lápis, camisa de chita, calça remendada, vomitando na gravatinha de crepom após os tórridos quentões.

Meu primeiro folguedo junino na cidade grande foi duro. Na noite do 23 de junho, lembrando das canjicas, do milho assado e do amendoim cozido preso no dente da primeira namorada (de maquiagem transbordante e pintinhas pretas ao redor dos olhos), peguei um circular na Glória (via Flamengo, Botafogo, Humaitá, Gávea, Leblon, Copacabana) para dar a volta à cidade, sentado ao lado da janela, procurando balões imaginários no céu.

Foi quando a figura se sentou ao meu lado, na altura da Praça do Jóquei. Estranhei quando pressionou a minha perna contra a sua, mas pensei tratar-se apenas de um desajeitado. Desconfiei quando a boca mole, de língua meio presa, balbuciou:

– Adoro São João.

Juro pelo santo: os olhos faziam aquele volteio das borboletas bêbadas. A mão, lânguida feito um calango, descansou sobre o meu ombro. Começou a cantar:

– Meu balãããããooo vai subir lá no céééééu... Vai subir lá no céééééu meu balãããããooo... Meu balãããããooo vai subir lá no céééééu... balãããããooo, balãããããooo, meu balãããããooo...

Fiz sinal em Copacabana, estava precisando de uma caminhada pela praia. A perna sonsa quase não me deu passagem. A boca mole e a língua presa emendavam no repertório:

–  Ai, São Joãããããooo... São Joãããããooo do carneiriiiiiinho... Você é tão bonitiiiiinho...

Onde encontraria uma canjica ou um licorzim de jenipapo, àquela hora?




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