Seu irmão mais velho, em visita de filho pródigo aos pais, lhe prometera um velocípede de presente de Natal ao subir no ônibus no dia do ir embora. Nas quebradas do Sertão daqueles tempos não era comum se presentear as pessoas, muito menos os irmãos, em tempo de Natal. A data era comemorada apenas pelas visitas aos presépios enquanto se aguardava a Missa do Galo. Papai Noel era uma palavra desconhecida das crianças.
O garoto não sabia se faltava muito ou se faltava pouco, mas sentia haver uma eternidade entre a promessa e o dia prometido. Sonhava diuturnamente com a chegada do irmão trazendo na bagagem o seu presente.
Um dia acordou sobressaltado mal o galo cantou e correu em busca da folhinha. Então, finalmente, o Natal havia chegado. Passou o dia sentado à beira do caminho esperando ver a figura do irmão se descortinar na distância. A noite chegou, os pirilampos acenderam suas lanternas, e o seu pai o encontrou atento aos vultos passantes.
- Vamos, filho! Talvez seu irmão tenha perdido o ônibus de Zé do Padre. Não veio hoje, talvez venha amanhã ou depois de amanhã.
O Natal foi embora e ele continuou a esperar sentado à beira do caminho. Um dia o seu irmão apareceu sem que ninguém esperasse e o garoto sentiu o coração subir à goela. Finalmente realizaria o sonho de possuir um velocípede.
- Você cresceu um bocado, garoto. Não adiantava trazer um velocípede. No Natal vou lhe trazer uma bicicleta. Aguarde.
Os sonhos não se acabam nunca. Apenas se renovam. Uma bicicleta seria o suprassumo de um sonho de uma criança, principalmente em um lugar onde não existia nenhuma. O Infinito seria nada, perto de sua ansiedade sentado à beira do caminho ao longo dos dias à espera de um irmão que tardava em chegar.
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