quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Manolo Ramires - Big Ben Brasil


Outro dia recebi a visita de um inglês com aquela mania de pontualidade. Porque os ingleses são assim: gostam de tudo girando no horário deles. É o café da manhã, o almoço e o jantar, sem se esquecer do chá das cinco, passando pelo rigor do início e fim da reunião. É o jeitão que muita gente tenta imitar enquanto que os chineses levam a grana. Afinal, aos suíços, do relógio, a fama, e aos chineses, da produção, a réplica.

Comércio de bugigangas à parte, descobri com esse inglês que o brasileiro também gosta de pontualidade. Essa revelação surgiu durante um almoço de domingo. Quando perguntaram a hora, houve três respostas diferentes:

- Doze horas e trinta e cinco minutos exatos – disse um.
- No meu são doze e trinta e sete.
- Aqui tá marcando doze horas e trinta e nove minutos, mas eu sempre adianto cinco minutos do soninho. 

A diferença nos números levou à necessidade de checar qual o horário correto. O objetivo era não decepcionar o amigo britânico. Olhamos os relógios eletrônicos da cozinha - parede e fogão – que divergiam nos minutos. Em seguida, os aparelhos de TV e DVD. Estes apresentavam horários sincronizados, porém diferentes dos relógios das pessoas presentes. Por isso, para tentar acabar com a divergência, pois o almoço já estava atrasado, olhou-se no contador de horas do canal da BBC, tomando o cuidado para acertar o fuso horário. Big Ben. 

Tirada a dúvida, os relógios dos aparelhos eletrônicos da sala e da cozinha foram sincronizados, mas os dos pulsos e dos celulares seguiram com a sua cronometragem habitual, seguidas das devidas justificativas.

- Lembrei que o meu relógio está um minuto adiantado da folha de ponto digital da empresa. Como não posso alterar lá, vou deixar assim mesmo – argumento um.
- O meu também não vou mudar. Tá certinho, até nos segundos, com o motorista do ônibus. E ele nunca se adianta ou atrasa. Eu é que não vou correr esse risco – emendou dois.
- Pois eu vou corrigir o meu. Ao invés de cinco, vou deixar seis minutos adiantados e dormir um pouco mais – disse o terceiro, enquanto se espreguiçava.

Compreendi que o brasileiro está fadado a preocupar-se apenas com o seu próprio relógio, mesmo que isso acarrete na galera entrando na sala de cinema com o trailer já rolando ou com a família ainda procurando por um banco na igreja enquanto a segunda leitura está no meio. Enfim, quem entende bem dessa relação cultural é o meu amigo inglês, que é um belo de um brasileiro, sempre pontual em se atrasar meia hora.

- Cheguei um pouco atrasado, sir?
- Sim. Exatos trinta e um minutos. No meu relógio, é claro.
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