terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Notícias do front carnavalesco


Seu nome era Lourenço da Fonseca Barbosa, porém, dito assim, quase ninguém associa o nome ao homem. Trata-se de Capiba, personagem mais famoso de Surubim, em Pernambuco, conhecido nacionalmente como o Poeta do Frevo, o ritmo alucinante do carnaval pernambucano.

Contou-me a minha amiga Clara Suassuna, que privou da amizade do poeta e compositor pernambucano, que uma vez Capiba foi se apresentar na Europa. Uns amigos de Recife o incumbiram de trazer uma encomenda do velho continente, coisa pequena e leve. No retorno, entregaram-lhe a tal encomenda, um pacotinho do tamanho de uma caixa de chocolate. Quando desceu do navio, no porto de Recife, uma roda de amigos enlutados o aguardava. Um deles perguntou a Capiba:

– Trouxe a encomenda?
– Trouxe, mas na viagem deu muita formiga no doce e eu tive que jogar a caixa fora.
– Doce? Que doce?! Eram as cinzas do nosso avô que antes de morrer pediu pra ser cremado e depois a gente espalhar as cinzas no mar de Pernambuco!

Não sei se Capiba foi cremado quando morreu em 1977, sei que, com ele, foi enterrado o carnaval de Pernambuco que, tal qual o carnaval  de Salvador, hoje faz carnaval para inglês ver. Em Olinda, berço do frevo, o Harmonia do Samba com o bumbum do marido da Carla Perez fez muito sucesso. Em Recife, o bloco puxado pela Banda (Apo)Calypso, aquela que a moça se engasga quando canta, só perdeu em público para o Galo da Madrugada. Lulu Santos, que nunca cantou um frevo na vida, foi quem abriu o carnaval no Marco Zero.

Em Salvador o último dos moicanos foi enterrado: o irreverente bloco Mudança do Garcia. O ponto alto desse bloco eram os cartazes colados em carroças atacando os políticos incompetentes. Não proibiram os cartazes, mas proibiram o andar da carruagem. É a velha Bahia, nunca dantes tão dessemelhante e triste. Um prefeito incompetente e um governador bêbado. Como não se bastassem tantas invenções para se restringir o acesso do cidadão ao carnaval, privatizando a maior parte do espaço público, inventaram agora um tal de “Pop Corn Experience”, nome exótico para acachapar o cidadão: simplesmente isolam as calçadas, com corda, e cobra-se certa quantia para o folião ficar dentro. Como se não bastassem as cordas dos blocos; agora também se amarra o cidadão pagador de suas obrigações tributáveis na máquina da ganância de alguns privilegiados.

Em Maceió, que tem uns garotos fazendo barulho na Pajuçara, não se cobra nada, em compensação, nada se vê. É que no espaço reservado ao carnaval, se esqueceram de colocar iluminação. E no meio do breu, o locutor oficial, pago pelos contribuintes, agradeceu aos guardas da Secretaria Municipal de Trânsito pelo “livre arbítrio dos automóveis”.

Não estranhem que isso é coisa corriqueira nos meio de comunicação aqui e acolá. Um dos mais badalados jornais on line de Alagoas deu em letras garrafais: “Cabo atira em major e mata filho”. Já lá dentro, na notícia, diz que “o sargento foi preso em flagrante”. Como não há espaço para comentário, fiquei sem saber como foi que o cabo foi promovido a sargento depois dos tiros.


Um comentário:

Anônimo disse...

E aqui em Lavras o Carnaval foi exportado para, bem longe, bem longe...Muito bom esse texto, Tom.