quarta-feira, 28 de março de 2012

Luís Pimentel - O Millôr entre os melhores

"Levar o Chico e o Millôr?
Não tenho dúvida:
Deus está de mau humor!"
Cineas Santos


Pedi a dez amigos que relacionassem dez brasileiros geniais. Pois bem: em todas as listas aparecia, entre os nomes, esse com meia dúzia de letras: Millôr. O maior ídolo dos humoristas brasileiros, para quem escrever e desenhar parecia muito fácil, teve infância das mais difíceis. Ficou órfão de pai com menos de um ano de vida, e com menos de 10 perdeu a mãe. Ambos – pai e mãe – morreram com apenas 36 anos de idade. Estudou a vida inteira em escolas públicas e é formado, como ele mesmo já escreveu, “pela universidade do Méier”). Tinha três irmãos – um deles, o também jornalista Hélio Fernandes.

     Millôr Fernandes estreou na profissão com 14 anos, na revista O Cruzeiro, onde fez de tudo o que se pode imaginar dentro de uma redação. Começou como contínuo e, ao abandonar a publicação, homem feito e jornalista dos mais respeitados, deixara criações marcantes como a coluna do Vão Gôgo (pseudônimo inventado por ele e que veio a ser, provavelmente, o espaço autoral mais lido da revista, quiçá da imprensa brasileira, entre 1948-1950) e a coluna Pif-Paf  – embrião da revista quinzenal com o mesmo nome –, lançada no dia 15 de maio de 1964, um mês e meio depois da revolução, e fechada quatro meses (ou oito edições) depois.

     Millôr participou de duas experiências marcantes na imprensa brasileira: a criação do Pasquim – que ela ajudou a fundar –, em 1969, e um ano antes a revista Veja, onde começou a ocupar uma página, a convite do editor-geral Mino Carta. Começou a publicar em O Pasquim logo nos primeiros números, e durante um período dirigiu a redação do semanário. As duas experiências lhe trouxeram aborrecimentos políticos, como a quase prisão junto com os demais editores do Pasca e o processo sob a Lei de Segurança Nacional, por conta de um desenho publicado em Veja – em página inteira, um cara com um martelo, pregando um caixão com a palavra democracia. O cara era o general Newton Cruz, à época o todo-poderoso chefe do SNI, que o processou.

     Velho homem de imprensa (muito antes do Agamenon Mendes Pedreira), Millôr Fernandes ocupou espaços nobres também na Isto É, O Dia e no Jornal do Brasil, sempre escrevendo e desenhando. Autor teatral e tradutor dos mais respeitados, deixa mais de 50 livros publicados e lançou, em 1994, uma obra definitiva, A Bíblia do caos, reunindo mais de 5 mil registros em texto do genial e “irritante guru do Méier”, que, com certeza, vai fazer uma falta irritante.

Um comentário:

Anônimo disse...

Sim, ele vai fazer muita falta e seu louvor a ele ficou bem legal.