D.
João VI reinvadiu nosso território trazendo na sua esquadra real milhares de
parasitas da Corte. Aqui chegando, desalojou o povo de sua moradia, sem direito
a indenização, o que resultou no primeiro movimento brasileiro dos sem-teto.
Daí, foi um pulo para ser formado o MST e, um pouco adiante, a CGT. A CUT veio
bem depois.
Além
de comer e beber de graça, Sua Majestade Real e comitiva viviam na maior
esbórnia, usando e abusando dos mancebos e mancebas a serviço da realeza. Sua
Rainha Real, Dona Carlota Joaquina, além de abusada, insultou nossos brios
patrióticos no seu retorno a Portugal: jogou ao mar, do convés do navio, a
areia dos seus sapatos para não ter que levar nenhuma lembrança da terra que
eles fizeram de gato e sapato. Mas todo mundo se calou e a ralé ainda aplaudiu.
O
americano, antes de mostrar o branco massacrando o índio em seus faroestes
épicos, mostra o índio atacando uma caravana indefesa e raptando criancinhas,
aflorando o sentimento de justiça no espectador. Assim, nunca vemos o branco
norte-americano como o invasor, mas como o mocinho; automaticamente o índio se
transforma no inimigo que deve ser varrido da face da terra. Filme de guerra
também é a mesma coisa. Só mostra os episódios que o americano leva vantagem.
Isso
me faz lembrar uma piada. Um cidadão contava ao amigo a briga que tivera com um
desafeto. Narrava e encenava os tapas que dera. O amigo o interrompeu:
–
Por que você só conta a vantagem? Não fala dos murros que levou também?
– Ora, simples de responder: a parte que
apanhei, ele está contando a outro!
Nesse
contar de vantagem, achamos que o americano é melhor em tudo, até mesmo na sua
indecência. Já houve governante que disse: “O que é bom pros Estados Unidos, é
bom para o Brasil”. Assim, paulatinamente, nosso cotidiano vai sendo pautado
pelo uso e costume americano e o anglicismo é uma triste realidade que está a
merecer atenção do Congresso Nacional. Até no arraial do Junco, onde as
notícias até certo tempo atrás chegavam em lombo de jegue, já se aderiu à moda e
dizem que o halloween deste ano vai
ser o maior sucesso.
Todo
dia o homem come peixe e ninguém diz nada. No dia que o peixe como o homem, há
um verdadeiro rebu e se decreta o fim dos cardumes. Foi o que aconteceu com o
bom português De Jesus, um poeta desses d’além-mar que frequentam os sítios de
literatura na antiga província e fazem a maior festa com alguns imbecis que
acham que todo mundo em Portugal é um Camões em potencial. O coitado confundiu
alho com bugalhos, meteu os pés pelas mãos, e, numa crise de delírio
novelístico global, sentou a pua no povo provinciano, achando que a arte imita
a vida ou vice e versa. Literalmente. E mexeu com nossos brios patrióticos ao
nos acusar de termos duas caras, uma para sonegar impostos e outra para invadir
nações.
Tal
afirmativa de tão ilustre personagem, por pouco não causa uma crise diplomática
entre os dois países e, sob pressão da CIA, FBI, e Polícia Federal, nosso
confrade foi obrigado a se retratar e seu desvairamento textual foi retirado do
ar antes que nossos submarinos e porta-aviões cruzassem o Atlântico.
Mas
De Jesus deu provas de ser um perturbado mental. Nas suas escusas ao povo brasileiro, disse
que o culpado de tal incidente foram seus patrícios e que, por tal leviandade
dos seus, renegava sua cidadania lusitana e passaria a ser um simples angolano
praticante do fundamentalismo islâmico, com direito a se explodir em nome de
Alah. Só não disse se em shopping center, cinema lotado ou estação de metrô.
Coitado
do vate português, agora, angolano! Achar que as favelas do Brasil são
românticas e prósperas como a de Juvenal Antena, que aluno de faculdade
particular pode fazer aquela baderna e ficar por isso mesmo ou que brancas e
loiras do calçadão de Copacabana ou dos condomínios de alto luxo da Barra da
Tijuca irão namorar negros de favela, é sofrer de psicopatia delirante que nem
Freud saberia explicar as causas, muito menos os efeitos.
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