O garoto ouviu gemidos na
cozinha. Soluços de choro. Gritos de torturado. Era a sua irmã sendo castigada
pela mãe. Quanto mais pedia clemência, maior se fazia a ira materna. E o
castigo redobrava misturado com palavras ásperas.
- Você é alguma rapariga pra
ficar na rua dando bola pra homem, sua sem-vergonha! - e o relho comia na pele fina da filha.
O garoto se assustou quando viu
o corpo lanhado da irmã. Saiu feito um furacão, entrou sem pedir licença
na casa do primo, pegou a bola que ganhara de presente no Natal,
correu de volta para casa, adentrou a cozinha feito um furacão, parou e falou ofegante para a mãe:
- Para, maínha! Não bate na Ritinha mais não! A bola está aqui! Ritinha não deu a bola a
ninguém não. Eu é que emprestei para o primo Pedro!
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