quarta-feira, 1 de agosto de 2012

A bola

No sertão arcaico era assim: quem escrevia e não lia, era analfabeto.

O garoto ouviu gemidos na cozinha. Soluços de choro. Gritos de torturado. Era a sua irmã sendo castigada pela mãe. Quanto mais pedia clemência, maior se fazia a ira materna. E o castigo redobrava misturado com palavras ásperas.

- Você é alguma rapariga pra ficar na rua dando bola pra homem, sua sem-vergonha!  - e o relho comia na pele fina da filha.

O garoto se assustou quando viu o corpo lanhado da irmã. Saiu feito um furacão, entrou sem pedir licença na casa do primo, pegou a bola que ganhara de presente no Natal, correu de volta para casa, adentrou a cozinha feito um furacão, parou e falou ofegante para a mãe:

- Para, maínha!   Não bate na Ritinha mais não! A bola está aqui! Ritinha não deu a bola a ninguém não. Eu é que emprestei para o primo Pedro!



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