– O que é isto?
– Um passaporte. Ele está dizendo para ela
que vai embora, para sempre.
– Não disfarça.
– Verdade. Parece que ele não gosta mais
dela.
– Não estou falando do filme, seu sonso.
Estou perguntando o que é isto aqui, entre as minhas pernas.
– Minha mão, ora.
– Você não pediu permissão.
– E precisa?
– Saiba que não sou dessas.
– Já sei. Também não gosto dessas.
– Não está me agradando.
– Tudo bem. Podemos sair e procurar outro
cinema. Tem um filme legal no Estação Botafogo.
– Não se faça de bobo.
– Eu te amo.
– Que ridículo!
– Eu?
– Não. O sujeito do filme. Olha que
bigodinho mais cafona.
– Também acho.
– Eu vou gritar.
– Não faça isso, vamos evitar o escândalo.
– Então, para.
– Não consigo.
– Por quê?
– Minha mão está presa entre as suas
pernas.
– Tira a mão daí!
– Então abre as pernas.
– Nem morta. Se eu fizer isso, você se
aproveita.
– Criou-se o impasse.
– Como assim?
– No filme. Ele não sabe se pega o trem ou
se vai jantar com ela.
– Precisa aparar essa unha.
– Farei isso hoje mesmo.
– Então vou abrir um pouquinho. Mas só um
pouquinho.
– Você é uma boa menina.
– E você é um cafajeste.
– Fala baixo. Lá vem o lanterninha.
– Ele vai ver sua mão. Esconde.
– Onde?
– Aqui.
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