quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Luís Pimentel - No cinema


     – O que é isto?
     – Um passaporte. Ele está dizendo para ela que vai embora, para sempre.
     – Não disfarça.
     – Verdade. Parece que ele não gosta mais dela.
     – Não estou falando do filme, seu sonso. Estou perguntando o que é isto aqui, entre as minhas pernas.
     – Minha mão, ora.
     – Você não pediu permissão.
     – E precisa?
     – Saiba que não sou dessas.
     – Já sei. Também não gosto dessas.
     – Não está me agradando.
     – Tudo bem. Podemos sair e procurar outro cinema. Tem um filme legal no Estação Botafogo.
     – Não se faça de bobo.
     – Eu te amo.
     – Que ridículo!
     – Eu?
     – Não. O sujeito do filme. Olha que bigodinho mais cafona.
– Também acho.
     – Eu vou gritar.
     – Não faça isso, vamos evitar o escândalo.
     – Então, para.
     – Não consigo.
     – Por quê?
     – Minha mão está presa entre as suas pernas.
     – Tira a mão daí!
     – Então abre as pernas.
     – Nem morta. Se eu fizer isso, você se aproveita.
     – Criou-se o impasse.
     – Como assim?
     – No filme. Ele não sabe se pega o trem ou se vai jantar com ela.
     – Precisa aparar essa unha.
     – Farei isso hoje mesmo.
     – Então vou abrir um pouquinho. Mas só um pouquinho.
     – Você é uma boa menina.
     – E você é um cafajeste.
     – Fala baixo. Lá vem o lanterninha.
     – Ele vai ver sua mão. Esconde.
– Onde?
– Aqui.

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