Certa vez, vagando por um desses grupos literários da vida
cibernética, escrevi sobre um presente que ganhei de um primo, vindo de São
Paulo, ou, Sumpalo, como diria o povo antigo da minha terra: uns cds da dupla
caipira Tonico e Tinoco. A minha surpresa ficou por conta dos comentários saudosistas
da época da música caipira, muitos dizendo ter se lembrado dos pais ou tios, a
maioria, do interior paulista.
Cresci com um pé na urbe e outro na roça. Na cidade, minha
mãe cantava Orlando Silva; na roça, meu pai cantava Tonico e Tinoco. Meus
amigos, cantavam trilhas sonoras de novela. Depois virei um garoto que amava os
Beatles e os Rolling Stones e daí para frente a Verde-Oliva me desencaminhou
pelas veredas da clandestinidade musical, mas aquela melodia a toque de viola
nunca saiu da minha cabeça, nem mesmo quando a mídia começou a fabricar duplas
sertanejas estilizadas para preencher o cérebro de camarão de uma geração
perdida no espaço e no tempo. E essa geração, mais perdida do que cego em
tiroteio, chegou ao terceiro milênio sem rumo e sem prumo musical, ao ponto de
transformar um “ai se eu te pego” no hino nacional brasileiro.
É aquela história: quando a gente pensa que não há mais o
que piorar, descobre que ainda há areia no buraco para ser retirada. As duplas
caipiras estão subindo para o degrau superior e a mídia voraz nos presenteia
com essas duplas de dois sertanejas, ou até mesmo reinventando o absurdo midiático
como é essa tal de Joelma e seu parceiro Ximbinho. “Chegamos ao fim do poço”,
pensei ao ver essa dupla azucrinando nossos tímpanos no dia a dia, mas não demorou muito e
apareceram outros que deixaram a Banda Calypso parecida com a Orquestra Sinfônica
Brasileira.
Mas nem tudo está perdido. Inezita Barroso e Rolando Boldrin
salvam a televisão brasileira do caos cultural em seus programas semanais,
ambos, reprisados aos domingos. Inezita Barroso, com seu programa “Viola, Minha
Viola”, voltado para a música caipira de raiz, e Rolando Boldrin com o programa
“Sr. Brasil”, resgatando o regionalismo. Xangai tentou algo parecido na TVE
baiana, mas não sei se logrou êxito. Se qualidade desse Ibope, a Tevê Cultura
seria campeã de audiência.
Lá, para as bandas de Foz de Iguaçu, uma jornalista nas
horas cheias, e poetisa nas horas vagas, ou vice-versa, Jeanne Hanauer, resolveu
inovar no seu programa televisivo e cibernético trazendo ao público,
principalmente o urbano, a mais genuína música de raiz, a caipira, acompanhada
pela passarinhada silvestre. Assim, é mais um canal que se soma para não nos
deixar morrer pateticamente urbanos.
3 comentários:
Perfeito!!!! Falou de maneira brilhante!!
Perfeito!!!! Falou de maneira brilhante!!
Obrigado, Jeane. Seu programa foi dez.
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