O velho Junco, hoje, Sátiro
Dias, município de pouco menos de vinte mil habitantes com um pé encravado no
sertão norte baiano, festeja o que muitas capitais metidas a besta não
conseguiram: superar a meta nacional do IDEB para o Ensino Fundamental, a
menina dos olhos de qualquer governante municipal.
A cidade acordou do marasmo
nos anos 1980, quando um padre alemão chegou à cidade e deu as boas notícias.
Disse o padre, na sua primeira homilia em missa dominical, conhecer a cidade muito
antes de pôr os pés no Brasil, quando uma revista alemã mandou seus repórteres
para vasculhar a intimidade da terra do escritor Antonio Torres. Apesar de
falar com um forte sotaque alemão, o povo compreendeu que o velho Junco não era
só um ponto cravado no mapa do Brasil: estufou o peito orgulhosamente, a linda
juventude interessou-se mais pela leitura e os políticos passaram a convidar o
escritor para os eventos do município. Logo se instalou o Ensino Médio, depois
o Superior, e o velho Junco ganhou ares de pequena cidade importante no meio da
caatinga.
Décadas depois, os
professores compreenderam que podiam fazer a diferença, foram à luta e
conseguiram reverter um quadro inimaginável cinco anos atrás. Luta titânica,
heroica até, por se tratar da lida com alunos sem suporte técnico-alimentar
além dos muros da escola.
Há quem afirme que o sucesso
no IDEB nos confins da Bahia deve-se exclusivamente aos professores; outros
acham que é ação única dos governantes. Mas, na verdade, a obra é orquestração
dos dois. Sem apoio logístico os professores não andam; sem o apoio dos
professores, o administrador desanda.
Vejam a situação da
província onde moro: Maceió é uma capital que paga um dos melhores salários do
país aos professores, o corpo docente é composto praticamente por profissionais
de nível superior, no entanto, não conseguiu atingir a meta do MEC. Com o
prefeito mais preocupado em cantar forró numa visgueira qualquer do que visitar
uma escola, ao longo dos seus oito anos de mandato trocou de secretário de
Educação do mesmo jeito que trocou de camisa, sem se preocupar com o destino dos
deserdados da sorte. A cada novo secretário, uma nova filosofia do Caos; a cada
novo secretário, uma metodologia diferente para se perfilar os bajuladores.
O IDEB do Junco de 2011
superou o de 2005 em mais de cem por cento. Em 2005 a Educação era regida por
uma secretária de outra cidade e que tinha vergonha de mostrar o crachá do
município a que servia nos eventos nacionais. Então, como se esperar grandes
vitórias se a principal responsável pela pasta se sentia ultrajada em seus
brios narcisistas?
Deste modo, a Educação de um
município é como uma orquestra em execução, a conciliação ritmada de diferentes
instrumentos ao movimento harmônico da batuta do maestro. Se um desafina, a
peça inteira fica comprometida.
Parabéns ao prefeito, ao
secretário de Educação, aos professores e alunos, estes, os principais atores
na peça exibida. Que em 2013 o êxito seja maior, para satisfação daqueles
pequenos viventes que andam léguas no sol ou na lama em busca de cidadania.
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