Aos 18 anos de idade, a jovem retraída sonhava fazer
medicina, curso difícil, caro e demorado. Como sabia fazer contas, não teve
dificuldade para perceber que, mesmo passando no vestibular naquele ano (2010),
precisaria de pelo menos dez anos para começar a ganhar algum dinheiro com a
profissão. Fez mais contas e o resultado não lhe pareceu animador: mesmo que
conseguisse emprego com excelente salário – dez mil reais por mês – precisaria
de mais uns dez anos, economizando cada centavo, para amealhar um milhão de
reais. Tempo demais para quem tinha pressa e fome de vida. Vai que, uma noite
qualquer, fossando, na internet descobriu um concurso fascinante, o Virgins Wanted, promovido por um produtor
de cinema australiano. Sem pestanejar, inscreveu-se. Farejava ali a
possibilidade de faturar um dinheiro graúdo sem a necessidade de alisar banco
de escola por tanto tempo.
Dois anos depois, por razões que nem ela mesma sabe
explicar, acabou sendo escolhida. De pronto, aceitou participar do jogo que consistia em leiloar a
virgindade pela internet. Como boa jogadora, entrou de cabeça no projeto pronta
para o que desse e viesse. Pragmática, afirmou: “Pode acontecer de tudo, não tenho
preferência por um tipo de pessoa. Para mim, isso é um negócio e num negócio
não escolhemos o comprador. Não penso muito no ato em si. Como é uma coisa que
nunca fiz, é difícil dizer. Gostaria que fosse alguém que me compreendesse e
que fosse carinhoso. Seria legal, mas a pessoa não tem essa obrigação”.
Simples, prática, certeira.
Concordando
ou não com a decisão da jovem, é impossível negar-lhe tino empreendedor. Como
num passe de mágica, a virgem
saiu do anonimato para as telas de TV e
páginas dos principais jornais do Brasil. Só a Folha de São Paulo, o jornal de maior prestígio no país, dedicou pelo
menos meia dúzia de matérias ao assunto,
com artigos de colunistas do nível de Carlos Heitor Cony a Cantardo Calligaris,
para citar apenas dois. A exemplo de tantas outras nulidades guindadas ao
estrelato, a mocinha tornou-se uma “celebridade”. Não se espantem se o Sumo
Pontífice se manifestar sobre o tema, mesmo que seja para condená-lo.
Indiferente à opinião pública, a cidadã afirma: “Essas
pessoas não me conhecem. São opiniões preconcebidas da minha pessoa. Eu já
estava preparada para as críticas, não esperava a bênção de ninguém”.
Encerrado
na semana passada, o leilão teria alcançado a cifra, nada desprezível, de 1,5
milhão de reais. O grande vencedor
foi o Sr. Natsu, um japonês com muito dinheiro e pouca imaginação. O ato se
consumará a 18 mil pés de altitude, num jato fretado para tal fim, entre os EUA
e a Austrália, sem direito a preliminares ou cabritagens, como se diz no sertão.
Pensam
que a jovem empreendedora pretende
parar por aí? Ledo engano: consta que, picada pela mosca azul, a moça já pensa na possibilidade de tornar-se
apresentadora de um programa de TV; de preferência, destinado ao público jovem.
Por favor, não façam essa cara de espanto: temos precedentes piores na TV
brasileira. De tudo isso, sobra uma
lição: saber rudimentos de matemática pode fazer uma enorme diferença na
trajetória de um vivente!
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