O papa Paulo VI enfrentava sérios problemas
para apascentar seu numeroso rebanho. Millôr Fernandes, sempre certeiro,
disparou: “Se eu fosse o papa, vendia tudo e ia embora”. Pena que o filósofo do Méier não tenha vivido o
bastante para ver Bento XVI, no dia 11 de fevereiro de 2013, anunciar que vai pegar
o boné , o cajado e saltar fora da “Barca de Pedro”. Razões? Cansaço, velhice,
problemas de saúde... Fez o comunicado em latim para que os anjos, antes dos
humanos, tomassem ciência de sua decisão radical. Na noite daquele dia, um raio
riscou o céu do Vaticano, “manifestação do Espírito Santo”, afirmam alguns.
Não são poucos os que veem na renúncia
de Bento XVI um gesto de suprema
humildade, de desapego ao poder, de responsabilidade. Muitos, porém, o acusam
de fraqueza, debilidade e até covardia. A jornalista Bárbara Gancia, por
exemplo, em artigo publicado na Folha, entre outras gentilezas, afirmou: “E o poder simbólico da resiliência? Que
mensagem de perseverança Bento 16 nos deixa? Muito conveniente exigir todo tipo
de sacrifício do fiel e depois exibir publicamente tamanha frouxidão”.
Até que o Espírito Santo indique o novo
pontífice, muita água vai rolar sob a ponte. As teses conspiratórias já estão
em curso. As intrigas palacianas, as transações escabrosas, os interesses mais
escusos, tudo isso renderá livros, documentários e filmes, o que é
perfeitamente explicável: ninguém renuncia ao “Trono de São Pedro” impunemente.
O último a fazê-lo, Celestino V (1294) teve de passar uma temporada na
antessala do inferno de Dante
Alighieri antes de ser canonizado por Clemente V em 1313.
Conservador, erudito e sem nenhum
carisma, Bento XVI será lembrado como um intelectual que se esforçou para
corrigir os rumos de uma igreja marcada por escândalos de toda ordem: da
pedofilia à lavagem de dinheiro. Sua renúncia, no entender de alguns
vaticanistas, poderá acelerar o processo de oxigenação de uma instituição
marcada por gritantes contradições: tem sido leniente com os crimes sexuais
praticados por seus pastores, mas intolerante até com uso de preservativos e
contraceptivos por parte dos fiéis. Há muitas questões abertas; a do celibato
dos padres é a mais visível delas.
Vaticanistas e simples especuladores
acreditam que, para o bem da igreja, o próximo papa deve ser latino-americano
ou africano. Resta combinar com o Espírito Santo que, parafraseando Murilo
Mendes, baixa onde quer. Sem poder nenhum nem mesmo o de opinar, me limito a
rogar ao Paráclito para que escolha o
ganense (ou ganês) Peter Turkson. Por amor à verdade, não o faço
desinteressadamente: puxo a brasa para a minha sardinha, Com Obama na Casa
Branca, Turkson no Vaticano e Joaquim Barbosa na Presidência do STF, poderei
bater no peito e gritar: É nóis na fita, mano!
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