Ela
é da gema, da clara e da casca do ovo. Do subúrbio e da Zona Sul, da infância
em favelas, com latas d´água na cabeça, ao sucesso explodindo mundo afora,
recebendo elogios de quem conhece o seu ofício. Já me disse em uma entrevista:
“Degustei lágrimas como quem degusta vinho. Sei o gosto que elas têm”. Não foi
apenas uma frase de efeito. Quem conhece um pouco de sua história sabe que ela
comeu o pão que o diabo amassou, apanhou mais do que boi ladrão.
Elza Soares, uma das mais brasileiras
entre as cantoras brasileiras chega aos 76 anos neste junho de 2013, no dia 23,
cantando melhor do que nunca. Possui recursos vocais personalíssimos,
arrancando as sílabas da garganta como se quisesse estourar as veias do corpo.
Parece que “rói do cóccix ao pescoço”, como no verso da música que Caetano
Veloso escreveu para ela e que virou título de um dos seus mais belos CDs.
Outro que homenageou lindamente a garra da
cantora, seu som em fúria, foi Chico Buarque. Lembrou o craque dos craques, na
canção Dura na queda: “Apanhou à beca, mas pra quem sabe olhar/A flor
também é ferida aberta/E não se vê chorar”.
Do velho 78 rotações ao CD, são mais ou
menos 100 discos gravados, no Brasil e no exterior. Nos EUA, resolveram
examinar sua garganta e concluíram que as cordas vocais eram defeituosas. Um
defeito perfeito. “Armstrong ficou deslumbrado quando viu que termino de cantar
e falo normalmente, que esse som é puro efeito vocal. Ele me chamava de filha
espiritual”. Não vai nesse depoimento nenhum excesso de vaidade. Simples
relato.
O sucesso enorme que fez com músicas como Mulata
assanhada, Se acaso você
chegasse, Língua, Malandro, Cadeira vazia etc., não
mudou sua estrada, desde o início para cima:
– Sou uma poderosa. Vitoriosa quatro
vezes: mulher, negra, estrela e gostosa.
Diz o último verso da canção do Chico: “O
sol ensolará a estrada dela...”. A estrada sempre esteve ensolarada. Elza
Soares é a verdadeira guerreira da luz.
Nenhum comentário:
Postar um comentário