Há
algumas semanas descobri uma palavra nova: “brega”. Bem, acredito que a maioria
dos paulistas vai dizer que essa palavra é antiga, que eu devo estar delirando,
“onde já se viu não saber o que significa ‘brega’?”, e por aí vai.
A
questão é outra. Descobri para essa palavra dois significados que para mim são
novos: brega como substantivo sinônimo de bordel, lupanar, zona de meretrício,
cabaré de baixa categoria, e, em Portugal, brega como substantivo que designa o
ofício do toureiro durante a tourada, por empréstimo ao espanhol – e deste
último significado vem muita reflexão, mas vamos por partes.
Sempre
ouvi a palavra brega como adjetivo: música brega, roupa brega, decoração brega,
pessoa brega, etc.
Pesquisando
a origem do termo (e rindo muito! Quem disse que pesquisa não pode ser
divertida?), deparei com várias definições, ou tentativas de definir um
vocábulo tão abrangente e ao mesmo tempo tão vago como “brega”.
Da
música à moda, passando pelo comportamento, tudo que é deselegante é brega. Se
for algo de mau gosto, é brega. Se for excessivamente popular, é brega.
Exagerado ou singelo demais? É brega. Algo que apela sem pudor às emoções é
brega. Tudo que é fora de moda, antiquado, cafona (e cafona já é uma palavra
fora de moda) é brega.
Num
dicionário online (http://www.dicio.com.br/brega/) encontrei as seguintes
definições:
“adj.
m. adj. f. Informal. Pej. Característica da pessoa que não possui cortesia;
cujos modos são indelicados; cafona: “naquela festa só havia gente brega!”.
Que
denota falta de gosto; que se apresenta de maneira desapropriada tendo em conta
a opinião de quem critica: música brega; vestido brega.
Particularidade
daquilo que é grosseiro, reles, comum: apartamento brega.
Que
possui características melodramáticas ou expressa seu sentimento de modo
exagerado; kitsch.
s.m.
e s.f. Pessoa que possui essas características: “embora se vestissem como
ricos, não passavam de uns bregas”.
s.m.
Bahia. Informal. Região de prostituição. (Etm. de origem discutível)
s.f.
Portugal. Ofício do toureiro durante a tourada. (Etm. pelo espanhol: brega)”
Também
durante a pesquisa online (http://www.dicionarioinformal.com.br/brega/)
surgiu esta informação:
“No
interior da Paraíba, Pernambuco e Ceará, sinônimo de cabaré, geralmente de
baixa categoria. A música tocada nesses ambientes, assim como o modo de se
vestir e de se comportar dos seus frequentadores, geralmente gente simples do
povo, fez com que o termo fosse utilizado como antônimo de "chique",
oposto dos valores das das camadas privilegiadas da sociedade:
-
Vamos para o brega hoje.
-
Essa é uma música de brega.”
Veja-se,
neste último exemplo, que se trata de uma locução adjetiva, “de brega”. Aquilo
que fosse característico de um cabaré seria “de brega”: música de brega, roupa
de brega, gente de brega. Daí a ser transformado diretamente num adjetivo foi
apenas um passo.
Isso
pode explicar o emprego da palavra como adjetivo, mas não explica seu
surgimento como substantivo significando cabaré ou lupanar. Talvez a resposta
esteja no seu emprego, em Portugal, para designar o “ofício do toureiro durante
a tourada”.
Deixando
de lado o fato de que, pela lógica, o ofício do toureiro é a tourada, a
etimologia desta acepção resta bem obscura.
Buscando
a origem espanhola do termo (Dicionário de Espanhol-Português, Porto Editora,
s. d.) , “brega” significa briga, disputa, conflito, luta, pendência. Isso
explica seu uso, em Portugal, para designar o ofício do toureiro.
Como
verbo, “bregar” tem o sentido de brigar, contender, mas também de fatigar-se,
trabalhar afanosamente; em sentido figurado, “bregar” é lutar contra as
dificuldades.
Porém,
nesse caminho tortuoso, surgiu o adjetivo “bregado(a)”, que é um barbarismo
para “bragado”. Certo. Mas o que é “bragado”? Lá vamos nós...
“Bragado”,
figurativamente, é um adjetivo aplicado a pessoas enérgicas e firmes, mas em
seu sentido original designa o animal cujas pernas têm cor diferente da do
resto do corpo. Por extensão, surge “bragadura”, que dá nome ao entrepernas –
parte superior e interior das coxas, ou à parte do vestuário que fica nessa
região do corpo.
A
partir dessa definição, e conferindo possíveis regionalismos da língua
espanhola, chegamos às “bragas”, que em espanhol designam a peça inferior da
roupa-de-baixo feminina, ou seja: a calcinha. Mas, em sentido figurado,
significa estar sem dinheiro, em situação difícil, ou, ainda, ser desprevenido
ou descuidado.
Todos
estes significados para a palavra brega, bregado, bragado ou braga, em espanhol
– briga, entrepernas, calcinha, situação difícil, trabalhar arduamente -, são
origens possíveis da palavra brega, empregada no Brasil como sinônimo de cabaré
ou bordel, e a partir daí a sua derivação como adjetivo, para qualificar alguma
coisa como de mau gosto.
Mas
nenhuma dessas possibilidades tem o mesmo encanto, nem é tão divertida, quanto
a origem, ainda que folclórica, suscitada nesta definição
(http://pt.wikipedia.org/wiki/Brega):
“Brega:
de mau gosto, de baixo nível. Consta que a palavra teve origem em Salvador,
mais propriamente numa área urbana de baixo meretrício onde uma placa indicando
a Rua Padre Manuel da Nóbrega teve gasto o letreiro, sobrando apenas as duas
últimas sílabas. Aplica-se a pessoas que se mostram sem elegância, que exibem
mau gosto.”
Quem
não gosta de pesquisar em dicionários não sabe a diversão que está perdendo.
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