Fiz-me coroinha para beber escondido o vinho canônico guardado a sete
chaves no armário da sacristia, pulei muro cheio de vidro para chupar
laranja do vizinho, usei a identidade do meu irmão para entrar no
cinema em filme para maiores de dezoito anos e falsifiquei a assinatura
da minha mãe em bilhete à mãe da namorada pedindo para que ela fosse
passar o Natal na minha casa. Coloquei o número 1 na frente do 0 no
boletim da escola, desci pela traseira dos ônibus para não pagar
passagem, consumi bebida e tira-gosto nas barracas em festa de largo em
conluio com um amigo, comissário de menor, que aparecia com a polícia,
ameaçava prender o dono da barraca por servir bebida alcoólica a menor
de idade, e depois me me mandava ir embora sem pagar a conta. Fiz
falsas promessas às inocentes criaturas, tipo, "se doer eu tiro" e "só
vou botar a cabecinha". E o pior de todos os delitos: não confessei ao
padre toda a culpa que corroía a minha alma naquela liquidação coletiva
de pecados chamada "primeira comunhão". Omiti, menti deliberadamente
(mais por vergonha e menos por má fé) o que fazia durante horas trancado
no banheiro de casa folheando uma revista chamada "catecismo", de
Carlos Zéfiro, enquanto os meus irmãos corriam para a casa dos vizinhos para
satisfazerem suas necessidades fisiológicas.
Pronto, diante desta confissão, agora você já pode me entregar pro Sérgio Moro e ir dormir consciente de que cumpriu o seu dever e de que, a partir de então, a corrupção acabou.
Um comentário:
"Fiz falsas promessas às inocentes criaturas..." - o que mudou de lá pra cá?
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