sábado, 5 de janeiro de 2019

Menino que fui menina

Quando eu estava para vir ao mundo, a minha mãe quis que eu nascesse igual a Jesus Cristo. Na hora do parto mandou chamar a parteira Tindole e correu para o curral. E assim, conforme as Sagradas Escrituras, o meu berço foi uma manjedoura, que lá no Junco era conhecida como "coxo". Como não havia roupa de príncipe para me vestir, ela me cobriu com uma toalha vermelha comprada na quermesse do Natal para ajudar nas obras da igreja. Quando comecei a caminhar com as próprias pernas (perdoem o pleonasmo, pois, afora os seguidores do Cramulhão, todo mundo caminha com as próprias pernas, por isso se faz necessário reforçar a ideia para não me confundirem com os sem pernas) a minha mãe me olhou carinhosamente, me abraçou chorando e disse:
- Vai, meu filho, ser guache na vida!
E eis-me aqui, séculos depois, refletindo sobre o poder alucinógeno do chá da goiabeira e da capacidade de destruição do cérebro dos seguidores desse que não se deve falar o nome. São tão ignorantes que não sabem que acabar com a ideologia de gênero é justamente destruir esse conceito arcaico de que menino veste azul e menina veste rosa. Acabar com ideologia de gênero é pôr a pique essa história de que menino brinca de bola e menina de boneca.
E viva Marta, a rainha do futebol!

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