sábado, 5 de janeiro de 2019

Quer namorar comigo?

Já que existe a probabilidade de retornamos aos tempos medievais, há coisas do século passado que adoraria que o Coiso trouxesse de volta para que os coxinhas solteiros sentissem na pele a ditadura das garotas sobre os garotos na hora da paquera. Nada de peguete ou ficante, piriguete ou santinha do pau oco, muito menos sirigaitice. Nada de se ir ao cinema sem levar à tiracolo o irmão pirralho da pretendente. Na roda gigante, cada um na lateral e o pirralho no meio (isso quando a mãe tinha medo de altura) chupando algodão doce. E nada ainda estava certo. Era só distrações para engabelar a garota enquanto a resposta de uma proposta feita dias antes não chegava.
- Quer namorar comigo?
- Não sei... Posso pensar um pouco?
- Quanto tempo?
- Cinco dias.
E o domingo no parque era o quinto dia aprazado para o sim ou o não, duas palavrinhas com o poder de transformar ou destruir o mundo. E a garota era a única com a chave das ilusões. No raro momento de "enfim sós", hora de tirar a prova dos nove:
- E aí, pensou na resposta?
- Que resposta?
- Se quer namorar comigo.
- Ah! Nem tive tempo de pensar! Posso lhe responder daqui a dez dias?
Que fazer!? Enquanto há vida, há esperança. Pior deve ser na guerra. Enquanto isso, a roda gigante sobe e desce em trajetória circular tal qual a Terra em rotação. Quando para no alto, o Diabo se apodera dos desejos, mas falta coragem para jogar o pirralho no vazio. O pretendente olha a mocinha com olhar de peixe morto, apelativo, e suspira resignado. Sente vontade de beijá-la, tirar o vermelho da maçã do amor manchando os lábios, mas o pirralho tá no meio comendo algodão doce, atrapalhando o romance. A roda gigante para, eles descem, os pais da garota aparecem e ele vai para casa dormir sem saber a resposta. É dia de Reis e no outro dia o parque estará desmontado e seguindo viagem na direção dos sonhos. E com muita sorte, no natal seguinte, a garota já terá a resposta.

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