No
início da década de 70, a palavra ecologia ainda não tinha emprego corrente
entre nós. Para muitos, era apenas um modismo ou uma seita sem maior importância. Os ecologistas não eram levados a
sério. Não passavam de “propagadores de catástrofes”, ruidosos e
inconsequentes. Em 1976, no lançamento do livro Ciranda, coletânea de poemas organizada por Paulo Machado,
realizamos um show-protesto – Cenas Piauienses:
o rio – com a participação de poetas,
músicos, atores, fotógrafos e dos professores Dumbra, de saudosa memória, e
Waldemar, recém-chegados a Teresina. Professor em vários cursinho, não tive
dificuldade para lotar o Theatro 4 de Setembro: meus alunos compareceram em
peso. A imprensa graúda não tomou conhecimento do fato, mas a comunidade
acadêmica reagiu. Um dos sábios de
plantão bateu duro: “Um grupo de Inconsequentes e irresponsáveis tenta
transformar o Parnaíba em Tietê”. O tempo se encarregaria de mostrar que,
infelizmente, tínhamos razão. Até onde
sei, foi a primeira manifestação ecológica que se realizou em Teresina.
No
início da década de 80, fizemos outro protesto, desta feita, na Praça Pedro II
com o título Primeiro Manifesto Ecológico
do Piauí. Poetas, músicos, artistas plásticos e simples curiosos lotaram a
praça. O foco era o verde da cidade. Paulo Machado e Fernando Costa bolaram um
cartão bonito com os versos: “Viver-te/ver-te/verde cidade”. A imprensa deu boa
cobertura ao evento que alcançou alguma repercussão. A partir de então, a
palavra ecologia tornou-se uma espécie de panaceia capaz de “curar” todas as
feridas da Terra. Nessa altura dos acontecimentos, entraram em cena os
“ecologistas profissionais”, ou seja, os que passaram a ganhar dinheiro para
não fazer o que fazíamos de graça.
O
mais é sabido: nos últimos 30 anos, a cidade inchou, cercou-se de favelas e foi
perdendo a cobertura que lhe dava o título de “Cidade Verde”. A especulação imobiliária engoliu quintais,
chácaras e clubes. Num ritmo frenético, rasgaram-se novas avenidas, construíram
pontes e viadutos e os automóveis adonaram-se de cada polegada das ruas. Os
rios que abraçam a cidade converteram-se
em escoadouro dos efluentes indesejáveis. Novidadeiro, o teresinense aplaude
qualquer intervenção, por mais danosa que seja, desde que venha com a embalagem
“moderno”. Estatísticas dão conta de que a cidade já perdeu 40% da sua cobertura
vegetal. Falta-me autoridade para confirmar ou contestar.
No
dia 21 do mês em curso, Dia da Árvore, fizemos outra manifestação, que se
realizou na velha e sofrida Praça do Liceu. Mais uma vez, os poetas estiveram
por lá, os músicos (Vagner e o Valor de PI), estudantes e alguns curiosos. A
ONG + Vida disponibilizou 200 mudas
de árvores regionais, alguns amigos mandaram mais algumas. A imprensa tratou o
fato com o necessário respeito.
Curiosamente,
as pessoas, com as exceções de praxe, não demonstram maior interesse pelas
mudas. Uma senhora resumiu bem a questão: “Isso demora uma vida pra crescer”.
Tem razão: para cortar uma árvore, precisa-se de uns dez minutos; para que uma
árvore se torne frondosa, serão necessários, no mínimo, dez anos. Deixo aqui
uma sugestão: na próxima manifestação, se houver: em vez de árvores, que se
distribuam ventiladores e aparelhos de ar condicionado. Sucesso garantido.
Enquanto isso, como peixes em lagoa rasa, os teresinenses continuarão
queixando-se do “calor insuportável”. Brava gente!