quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Leituras inesquecíveis IV:



As fotonovelas, os livros de bolso, as revistas em quadrinhos.

Por Edna Lopes



“Se a gente não tivesse feito tanta coisa, se não tivesse dito tanta coisa, se não tivesse inventado tanto, podia ter vivido um amor grand’hotel.”
[Grand' Hotel Kid Abelha]


Uma das lembranças mais deliciosas da minha história de leitora é a da primeira fotonovela, porque com ela veio junto a novidade de morar na cidade, o encanto pela imagem de TV, a magia do cinema. Ao mesmo tempo passei a frequentar a biblioteca pública e nela havia mais que uma estante tosca. Havia centenas de livros esperando para serem lidos por quem gostasse da aventura de viajar pelas letras.



Tinha 12 anos e peguei de minha irmã mais velha uma GRANDE HOTEL. Achei o máximo. Eu, habituada a ler tudo que me caía na mão, ia recusar aquela beleza? Como eram bonitas as mocinhas e os galãs das fotonovelas! Cabelos incríveis, roupas elegantes... Eu queria ser Michela Roc, Katiuscia, Claudia Riveli, tão lindas com seus cabelos enormes, jeitinho de moças boazinhas, merecedoras do amor daqueles príncipes todos. Não consigo lembrar muita coisa, mas havia umas revistas coloridas lindas e umas com fotografias em preto e branco, que eram as minhas favoritas.


Foi uma revolução na minha vida de leitora. Eu, que devorava os livros e dava voltas na imaginação fantasiando cada personagem, tinha-os ali, prontinhos, inteiros, lindos, “falando”, “pensando”, abraçando, beijando, vivendo! Aquilo era mais do que eu havia imaginado com A Moreninha, com Ceci ou Iracema ou mesmo com a Escrava Isaura.


Adulta, li por aí a opinião de que as fotonovelas prestaram um desserviço às adolescentes da época, pois viviam num mundo de fantasia, sonhando com um “amor Grand’Hotel”, idealizando um príncipe que nunca chegava. Permito-me discordar. Sinceramente, me diverti muito lendo-as e não quero psicologizar nem atribuir a responsabilidade da construção do ser afetivo de quem quer que seja a leituras, a televisão ou ao cinema. Como referência, apenas a minha experiência e considero-me normal, fantasias no tempo certo, expectativas apenas de mim mesma, do que sou, do que sinto.


O engraçado é que a fotonovela parecia mesmo ser de uma dimensão unicamente feminina, pois não via homem nenhum lendo tal revista. Meninos da minha idade liam TEX, revistas de super-heróis (Batman e Robin, Super-Homem, Homem Aranha...), que eu também não dispensava, se me caíam nas mãos. Hoje muitos homens admitem que liam as fotonovelas escondidos, temerosos em por em dúvida a masculinidade, se descobertos.


Mas, do “mundo deles”, absorvi o gosto pelos livros de bolso. Lia todas aquelas séries e me lembro de algumas: Chumbo Grosso, Oeste Perigoso, Colt 45, Oeste Beijo e Bala... Hilárias estórias que me divertiam muito e, como eram baratinhos, vivíamos comprando e trocando, comentado entre nós as besteiras ali escritas. Os filmes de “western”, na TV, eram o estímulo para continuar lendo, pois as tramas eram muito parecidas e eu aprendi a amar John Wayne, Clint Eastwood, Giuliano Gema e outros que nem lembro mais.


Nesse período vi, num telão do clube da cidade, o filme Vidas Secas. Fiquei muito impressionada, muito comovida com o drama, pois descobri em Fabiano e Sinhá Vitória rostos tão meus conhecidos, tão reais e tão próximos que chorei a maior parte do filme. Passei a ler o mestre Graciliano, meu conterrâneo, e sofri muito com todo aquele universo fortemente marcado pela necessidade de quase tudo. Era a realidade que me cercava e me doía na alma. Adulta, reli algumas obras, com um olhar mais maduro, menos emotivo.


Das revistas em quadrinho, sou fã incondicional até hoje. Morro de rir com as trapalhadas do Donald e do seu vizinho Silva, adoro o Peninha e seus alter egos, o impagável Professor Pardal e tantos, tantos outros personagens que a partir daí povoaram a minha vida de leitora. Um universo fantástico que não me cansei e não me canso nunca de explorar, pois Bolinha e Luluzinha, A Turma da Mônica e todos os personagens de Maurício de Souza, serão sempre eternos parceiros de aventura de quem respeita a criança que há em cada um de nós.


Indícios da síndrome de Peter Pan ou do Complexo de Cinderela? Os dois juntos? “Hei! deixe que digam, que pensem, que falem...”



Um comentário:

Anônimo disse...

Bom, não é bem da minha epoca, mas ja algumas.Lá na casa do meu tio tom do junco tinha muitas mas os atores eram bem pobrezinhos, coitados!e nao tinham dinheiro para o figurino.