Por Edna Lopes
De dia da consciência negra |
Eu sei que muitos vão dizer que falar de cotas e consciência negra é pregar um racismo às avessas. Dizer que isso é coisa de quem não tem mais o que dizer nem o que escrever. Provavelmente dirão que isso é coisa de gente que se sente inferior e quer se exaltar. Coisa de negro.
Alguns se sentem ofendidos com tanta exaltação. Até feriado os negros têm! Quem raios é esse tal de Zumbi? E como se não bastasse, tem lei que determina o ensino da história da África, estatuto de Igualdade Racial, leis e estudos que defendem a titularidade de terras, que criminaliza a intolerância religiosa.
Provavelmente dirão que consciência negra é balela porque estão convictos que é ficção alguém ser discriminado pela cor. Certamente quem pensa assim nunca foi humilhado, desrespeitado, ofendido por simplesmente não ter a pele clara. Nunca viu ninguém mudar de calçada porque se aproxima, nunca foi mal atendido num restaurante, num bar, numa loja, numa repartição pública.
Quem se ofende, provavelmente não precisou explicar para ninguém que não era a babá ou o motorista dos próprios filhos, não precisou mostrar o documento do veículo e o RG para provar que era seu, não apanhou confundido com o ladrão do próprio carro e nunca foi desrespeitado por cultuar seus ancestrais.
Provavelmente também nunca recebeu olhar de incredulidade quando apresentado por seu ofício ou seu título, não teve o desprazer de lhe ser indicado o elevador de serviço nem ouvir quando atende a porta de sua própria casa: “seu patrão ou sua patroa tá aí”?
E essas são só algumas histórias que ouvi de gente querida e maravilhosa cujo “defeito” é não ter nascido de pele clara. Sei de tantas....já vi tanta maldade em forma de preconceito...Mas, da minha vivência, sei que negritude, consciência está para além da cor da pele. Sei que sou a somatória de tudo isso e, portanto, tenho muito respeito por tudo que se relaciona com o resgate da dignidade a quem um dia foi negado o direito da escolha do ir e vir.
E, para os que questionam, ironizam ou fazem piada com o feriado do 20 de novembro, este país deve a muitos povos, em especial, aos negros, a formação da sua riqueza e da sua cultura. Se, do ponto de vista biológico reconhecemos que A RAÇA É HUMANA, reconhecer, historicamente, a dívida com os negros na história desse país é ter mais que consciência. É fazer justiça. E que o Dia Nacional da Consciência Negra colabore para que todos e todas reflitam aonde guardam seu preconceito.
Vista a Minha Pele
2003, 15 min.
“Vista a Minha Pele” é uma divertida paródia da realidade brasileira. Serve de material básico para discussão sobre racismo e preconceito em sala-de-aula.
Nesta história invertida, os negros são a classe dominante e os brancos foram escravizados. Os países pobres são Alemanha e Inglaterra, enquanto os países ricos são, por exemplo, África do Sul e Moçambique. Maria é uma menina branca, pobre, que estuda num colégio particular graças à bolsa de estudo que tem pelo fato de sua mãe ser faxineira nesta escola. A maioria de seus colegas a hostiliza, por sua cor e por sua condição social, com exceção de sua amiga Luana, filha de um diplomata que, por ter morado em países pobres, possui uma visão mais abrangente da realidade.
Maria quer ser “Miss Festa Junina” da escola, mas isso requer um esforço enorme, que vai desde a superação do padrão de beleza imposto pela mídia, onde só o negro é valorizado, à resistência de seus pais, à aversão dos colegas e à dificuldade em vender os bilhetes para seus conhecidos, em sua maioria muito pobres. Maria tem em Luana uma forte aliada e as duas vão se envolver numa série de aventuras para alcançar seus objetivos. O centro da história não é o concurso, mas a disposição de Maria em enfrentar essa situação. Ao final ela descobre que, quanto mais confia em si mesma, mais capacidade terá de convencer outros de sua chance de vencer.
Indicações de uso:
O vídeo pode ser usado na discussão sobre discriminação no Brasil. É um instrumento atraente, com linguagem ágil e atores conhecidos do público alvo - adolescentes na faixa de 12 a 16 anos. Vem acompanhado de uma apostila de orientação ao professor para sua utilização em sala de aula, elaborada por educadores e psicólogos comprometidos com as questões de gênero e raça.
Ficha técnica:
Duração: 15 minutos
Direção: Joel Zito Araújo
Produção: Casa de Criação
Contato:
Tel.: (11) 6978-8333
Reproduzido do site http://www.piratininga.org.br/videos/discriminacao.html
Nenhum comentário:
Postar um comentário