quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Para onde nossos pais estão indo?

Por Leila Barros


De Para onde nossos pais estão indo






Fiquei olhando para o meu pai em uma dessas madrugadas em que ele perdeu o sono e queria tomar um leite quente. Olhei para seu rosto um pouco envelhecido (sim, um pouco apenas, a genética lhe foi benéfica) e seu cabelo já embranquecido coberto por um gorro simpático, como o de alguns Rappers.

Falava de coisas simples, comia suas bolachas de água e sal e às vezes suas frases e respostas me surpreendiam pela falta da memória astuta e ágil de outrora. Do signo de Leão, e fazendo jus ao zodíaco, sempre foi um leonino guerreiro e forte, um homem de dignidade e coragem. Procurou passar exemplos de probidade e otimismo em tudo que dizia e diz. E uma das coisas que dizia sempre, é nós não devíamos entrar em campo já perdendo em espírito.

Enquanto ele tomava seu leite e dizia algumas coisas eu me perguntava mentalmente:

- Para onde está indo o meu pai? Que cosmos serão esses que ele visita de vez em quando? Que será feito de sua força voraz? Será daqui para frente uma força que vai e volta? Será que existe algum lugar secreto que ele visita de vez em quando, nos momentos em que se enche desse planeta? Será que ele vislumbra de vez em quando um campo de futebol diferente? Será que visita um futuro mais palpável para ele? Será que sente falta de carregar motor de barco nas costas? Será que sente falta de pescar no Mato Grosso, de caminhar a pé até Bom Jesus de Pirapora, de tomar bagaceira?

Deve ser difícil para ele enfrentar sua própria realidade limitante, mas nessas horas procuro me lembrar da Tônia Carrero, que diz:

“Envelhecer é muito difícil, mas como o outro caminho é morrer...vamos em frente!”

Perguntei-me se haveria recursos médicos e humanos que pudessem amenizar esse processo natural de envelhecimento. Acho que eles existem sim e decidimos aqui em casa que vamos atrás desses recursos.

Não há como impedir a biologia e a força da gravidade de continuarem seus cursos, mas há sempre um jeito novo de se olhar para as coisas. Como meu próprio pai nos ensinou, não vamos simplesmente desistir e ficar olhando tudo com pessimismo e autocomiseração. Se entrarmos em campo, que seja para ganhar e que o Parreira não nos escute!

Estamos nos modificando e aprendendo a conviver com essa nova fase dele. É apenas uma etapa diferente, é a “envelhescência”, como a adolescência e outras. Vamos rir com ele, vamos motivá-lo, vamos incentivá-lo a fazer seus exames médicos, a tomar vitaminas, a praticar sua caminhada diária, vamos fazer com que ele se sinta útil e amado.

Agora eu sei para onde meu pai está indo. Ele segue o caminho lento e natural de todos nós. Mas, para trilhar esse caminho sem machucar os pés e nem o coração, é preciso não ter pressa. E há que se aprender com ele, todas as lições que ele tiver ainda a ensinar. É preciso que desde já comecemos a encher a mochila de otimismo saudável, de práticas de vivência salutares, vitaminas espirituais e físicas.

E para nos fortalecermos para o futuro, vale tudo: dançar, caminhar, ler a vida de Dalai Lama, ler as recomendações de Nuno Cobra, estar com as pessoas, gostar das pessoas, aprender e ensinar, doar um pouco de nós, participar de concursos, nos sentirmos vivos e pulsantes como estrelas esperançosas.

E só assim é que poderemos conviver e partilhar nossos melhores recursos e momentos com nossos pais, que de vez em quando dão uma fugidinha sabe-se lá para onde.

Mas eles sempre voltam porque sabem que nós estamos aqui.

Nenhum comentário: