De Aparício Torelli |
O Barão de Itararé – o jornalista, humorista, frasista, poeta, político e sacana inveterado, que um dia autoproclamou-se herói de um batalha inexistente, “pelos relevantes serviços prestados no front” – nasceu em 1895, em São Leopoldo (RS), e foi batizado com o pomposo nome de Fernando Aparício Brinkerhoff Torelly. Era filho de uma índia charrua que sentiu as contrações durante uma viagem de carroça pelo interior do estado.
“De repente, a carroça quebrou e eu resolvi botar a cabeça para fora pra ver o que estava acontecendo.”
Foi sua primeira gracinha. Fez alguns períodos na Faculdade de Medicina e, depois de publicar alguns poemas cínicos e satíricos nos jornais e revistas de Porto Alegre, reunindo-os em seguida no livro Pontas de Cigarro, arrumou as malas e se mandou para o Rio de Janeiro, onde desembarcou aos 21 anos de idade e com o endereço do jornal O Globo no bolso. Procurou o diretor, Irineu Marinho, e avisou que era o profissional que o jornal estava precisando.
– O que o senhor sabe fazer? – perguntou Irineu.
– Tudo. Desde varrer a redação até dirigir o jornal. Mesmo porque, não há muita
diferença entre uma atividade e outra.
Em 1926 o inquieto humorista lançou seu próprio jornal semanal, A Manha, pequena sacanagem em cima do matutino A Manhã. A redação ficava na Rua 13 de Maio, onde tempos depois de prisões e pescoções, o Barão de Itararé afixou uma placa destinada aos policiais que freqüentemente visitavam a redação e seu responsável:
ENTRE SEM BATER!
Não adiantou. Entraram, bateram muito e ainda carregaram o Barão para o presídio da Ilha Grande, onde puxou um ano e meio de cadeia. Lá conheceu Graciliano Ramos, vindo a tornar-se depois personagem do antológico Memórias do Cárcere.
A Manha resistiu com vida até o começo da década de 1930. O Barão, que depois assinou colaborações em vários jornais, resistiu até 1971. Foi um dos maiores.
Nota do blog:
Luís Pimentel é jornalista e escritor e, a partir de hoje, é o mais novo colaborador do blog. Ministrou oficinas de contos na Estação das Letras, no Armazém Digital, no Centro Cultural da Light e em feiras de literatura. É autor de mais de 20 livros, entre eles os volumes de contos Um cometa cravado em tua coxa (Record) e Grande homem mais ou menos (Bertrand Brasil), vencedor do Prêmio Nacional Cruz e Souza.
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