1.
Chegaram a casa com a informação de que o caminhão da Ação Social estava parado na praça, carroceria carregada de brinquedos, farta distribuição de presentes para os necessitados.
O menino largou o time de botão espalhado sobre a mesa, recolheu camiseta e sandálias e partiu na carreira. O moço da Prefeitura disse que bolas de futebol, de couro ou de plástico, não havia mais. Nem carrinhos de madeira ou controle remoto, nem livros ou velocípedes, bonés do Batman, insígnia de comandante, nada.
– Agora, só tem bonecas que choram e fazem xixi.
– Me dê. Vou levar para minha irmã.
O menino não tinha irmã para dar a boneca que chora e faz xixi. Mas não ia perder a viagem.
2.
Barbas e cabelos brancos ele já tinha. Também já andava meio barrigudo, e a rouquidão provocada pelo cigarro e a cachaça ajudavam a voz na hora do Ho, ho, ho! Era só botar a roupa de Papai Noel que ia dar tudo certo.
Vários coroas, muito gordos e meio roucos, já estavam na fila, pegando senhas para a entrevista. Uns dez ou doze seriam escolhidos para representar o bom velhinho nas portas das lojas, fazendo fotos com as crianças e chamando a freguesia.
– O que você acha do espírito natalino? – perguntou o homem da agência.
– Acho uma merda, mas preciso muito desse emprego.
Expulso da sala, foi fazer o seu Ho, ho, ho no botequim.
Um comentário:
Pois são tristes as histórias mas tão comuns e verdadeiras.
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