segunda-feira, 18 de abril de 2011

Edna Lopes - Profética

Estava tão certa de que o marido tinha amantes que passou a desconfiar até da própria sombra. Imaginava que era a vizinha, a colega de repartição, a moça do supermercado, a prima oferecida, a amiga da irmã...
Passou a viver no inferno e transformou a vida dele e dos filhos num purgatório, um tormento de lamúrias, queixas, acusações.

Ele, por sua vez, jurava de pés juntos que era delírio, que a desconfiança dela era infundada, que ele nunca dera motivo para que ela agisse assim, que ciúme tinha limites...
O convívio passou a ter clima de guerra fria. Se trazia um presente, ouvia:
– Culpa! Mil vezes culpa! A troco de que me traz esse presente se não é por culpa?
Se ele esquecia algum item da feira, mais reclamações, acusações:
– Desleixado, irresponsável! Aposto que da feira dela ele não esquece nada!
Se se atrasava:
– Eu não disse? deve tá por aí, farreando com a “rapariga”! – a lamúria e o choro estavam garantidos. Não adiantava os filhos dizer que ela exagerava, que não tinha provas e ela respondia:
– Terei!
Passou a rejeitá-lo na cama:
– Não me toque! Já tem quem lhe satisfaça!
O dito cujo, como não tinha mais sossego em casa, passou a chegar cada vez mais tarde. Aceitou o convite para o futebol, para o churrasco no clube, para o happy hour ...Sempre sozinho, mas, um dia, convidou uma amiga para jantar, outra para dançar, outra para tomar um drinque... Gostou de se sentir solteiro e arranjou uma namorada, duas... três...

Meses depois, chegando de mais de um fim de semana dormindo fora, já bem tarde da noite, estacionou o carro, jogou as chaves na estante e foi tomar banho. A mulher desfiou o costumeiro rosário das reclamações e ele nem ligou. Ela, enfurecida, perguntou:
– Posso saber por que você não se defende mais, não reclama mais do meu comportamento?
– Simples: você estava certa! Eu resolvi aceitar sua sugestão: arranjei uma amante.
Ela para, respira fundo, encara os filhos e grita:
– Eu não falei?!




2 comentários:

Anônimo disse...

Bem, agora ela vai poder dormir em paz: tinha razão.

Toninho disse...

Quem planta colhe,eis a questão Edna.Caso comum de transito?