Foi o inocente Dorival quem causou a
separação dos pais – Dora e Lourival, como a combinação denuncia –, em noite de São João. Dorinha jogou todo o
capricho de mãe na fantasia do caipira-mirim: costeletas e bigodinho feitos com
carvão, canino empretecido no lápis crayon, remendos de chita colorida na calça
e na camisa. Tava uma graça.
Enquanto isso, Lourival enchia a moringa
com licor de jenipapo, falando besteiras e gargalhando com os amigos em volta
da fogueira. Orgulhosa que só vendo, Dora levou o menino até a calçada para o
paizão conferir o trabalho:
– Tá bonito, não tá, Louro? Um verdadeiro
caipira.
E o
jumento insensível, entre um arroto e outro:
– Vai lavar a cara desse menino. A festa
é de São João, não é carnaval.
Dora usou a lenha da fogueira para
incendiar a casa, depois sumiu no mundo. Levando o pequeno Dori, que não
entendeu nada.
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Depois de 30 anos de casamento arrastado,
resolveram exercitar o romantismo numa noite de São João. Colocaram as cadeiras
na calçada e ficaram a contemplar o céu de junho:
– Olha, Nestor, que lindo balão. Ganha o
céu e as alturas, carregando com ele mensagens de paz e de prosperidade.
Um brinde à resposta do velho:
– Deixa de ser tola, Lucila. Qualquer um
vai às alturas quando ainda se tem fogo no rabo.
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Nenga e Valdira brincavam de pular
fogueira quando um tição mal-ajambrado provocou a tragédia, derrubando a moça
de pernas abertas entre as labaredas. Ela começou a chorar de vergonha, mas foi
consolada pelo namorado gentil:
– Bobagem. Deve ser bom assim, assadinha
na fogueira.
O amor é sonso.
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