quarta-feira, 16 de julho de 2014

Aconteceu naquele São João



Eu estava lá, nas brenhas das brenhas de uma serra de um lugar chamado Serra do Aporá, pulando a fogueira, bebendo licor de jenipapo e dançando forró ao som da sanfona, triângulo e zabumba.

Salão de chão batido, candeeiro pendurado no reboco da parede, sanfoneiro cochilando, poeira levantando e eu no meio da multidão dos dançarinos trocando passos entre o xote e o pau de porteira. De vez em quando alguém gritava “Viva São João!” e todo mundo respondia “Viva!”

No curto intervalo que o sanfoneiro fez para molhar a garganta, ousei satisfazer uma curiosidade com a parceira da contradança, uma mocinha da região:

- Diz-me uma coisa, meu bem, porque em todo homem que encosto sinto um negócio duro dentro da camisa?

- Ah! Isso é o cabo da peixeira!

Amarelei. O fole voltou a roncar, o zabumbeiro a zabumbar, pedi licença à moça e saí de fininho para o terreiro e fiquei olhando o crepitar da lenha na fogueira até a hora que um grito ecoou casa afora:

- Olha a faca!

A carreira foi tanta que ninguém retornou para ver se havia algum corpo estendido no chão.
  

2 comentários:

Celso Japiassu disse...

Que beleza de texto, Ronaldo. Este é o nosso sertão, incrível e belo.

Tom Torres disse...

Obrigado, meu grande poeta Celso Japiassu.