A minha mãe nasceu mais para
conselheira do que para ouvidora. Quando alguma amiga dizia ter medo de aranha,
ela aconselhava:
- Se não quiser ver uma
aranha, não se desnude diante do espelho.
Como eu não tinha medo de
aranha, tirei a roupa diante do espelho e o bicho que vi era outro. Corri assustado
para a sala e interrompi as inconfidências femininas:
- Mamãe, tem uma pulga atrás
da minha orelha!
Ela me atendeu com a devida
presteza e solicitude de todas as mães e me disse carinhosamente que não era
pulga; era piolho. Em seguida, após matar o piolho a unha, pediu licença às
amigas e raspou a minha cabeça e depois me deu uma surra de chinelo de couro de
boi que era para aprender a não andar nu dentro de casa, principalmente no dia
que ela recebia visitas para o chá das cinco.
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