Recém-chegada de Fortaleza onde
assistira ao show do Chico Buarque, a jovem senhora ostentava aquele ar dos
comungados. Ao me ver, não se conteve: “ Você não foi? Não sabe o que perdeu! Meu
Deus, Fortaleza é um encanto! Só em Teresina não acontece nada!”, sempre em tom
exclamativo. Não resisti à tentação de citar Soljenítsin: “Cada um constrói o
seu paraíso no inferno do outro”. A cidadã arregalou os belos olhos e perguntou:
“Quem?” Um autor russo de que ninguém se lembra mais, respondi. Falamos amenidades,
e cada um tomou o seu rumo.
Esse
papo de que nada acontece em Teresina me deixa particularmente aborrecido. Que
diabo as pessoas esperam que aconteça aqui para que se sintam vivas? Um
terremoto? Vivo nesta chapada há mais de
40 anos e posso lhes dizer que todas as coisas boas e ruins que vivenciei
aconteceram exatamente aqui. Poderia, sem risco de ser tomado por pretensioso,
afirmar que algumas delas aconteceram com a minha participação. De uma forma ou
de outra, nunca estive alheio aos rumores da cidade. Estou inteiro aqui.
Sem esforço algum, é possível lembrar
que só este ano já tivemos Artes de Março,
com belas atrações artísticas. Aurélio Melo e João Cláudio nos brindaram com a Cantata Gonzageana, a mais bela
homenagem que se poderia prestar a Luiz Gonzaga. Brindaram-nos com o espetáculo
Emoções: Theatro 4 de Setembro lotado.
E o que dizer do show dos Cojobas?
Todas as mesas foram vendidas no curto espaço de uma semana. Vejam que são
espetáculos bem distintos, com temas diversos e linguagens específicas. É
pouco? Hoje (dia 10) tem início o Salão do Livro do Piauí, que se estenderá até
o dia 17. Neste mês teremos ainda a 36ª edição do Encontro Nacional de Folguedos, o São João das Cidades, festas para
todos os gostos em todos os recantos de Teresina. De 5 a 8 de julho,
realizaremos a 8ª edição do Festival Nacional de Violão do Piauí, com atrações
internacionais. Depois, virá o Salão internacional de Humor do Piauí, O Salão
MedPlan e o que mais pintar. Agosto, com o aniversário da cidade, será uma
festa inteiriça.
Como se pode ver, de tédio não morreremos.
O que o teresinense precisa fazer, com a maior urgência, é adonar-se desta
cidade e, consequentemente, amá-la de forma mais convincente, ou seja, amar com
ações e não apenas com palavrório vazio. Essa brava gente precisa, acima de
tudo, passar a consumir os bens culturais produzidos aqui, do capote com arroz
ao CD da Maria da Inglaterra. Teresina terá a cara que dermos a ela. Como diria
aquele velho donatário da chapada, “A cidade é o povo”, o mais é paisagem.