José Carlos Bahiana Machado Filho
De Papagaio |
Ao referir-se às entradas e bandeiras nestes sertões brasílicos, vem a tona a lembrança dos paulistas que desbravavam nossas matas e exterminavam as nações indígenas. Porém, os primeiros bandeirantes foram baianos e já realizavam expedições bem anteriormente, partindo da Cidade da Baía (Salvador) em direção ao Rio São Francisco, conhecida região dos Tapuia (denominação que os falantes do tupi davam a todos aqueles que não pertenciam à sua etnia nem falavam sua língua). Thomé de Souza foi um dos incentivadores da “caça ao índio” e oferecia imensas quantidades de terra àqueles que o fizessem. Francisco d’Ávila, proprietário da maior sesmaria em território baiano, foi responsável por sangrentos massacres. Nações "jê" desapareceram. Assim foi com os Paiaiá, primeiros habitantes da região entre os Rios Paraguaçu e Itapicuru – região onde atualmente se situa o Junco. Essa nação foi completamente exterminada logo nos primórdios do Brasil.
Num desses ataques, numa batalha atroz, alguns conseguiram fugir para o mato – não se sabe se conseguiram sobreviver e hoje pertencem àqueles grupos ressurgidos, antes dispersos, cujos membros viveram longos anos do trabalho semi-escravo nas lavouras dos senhores do sertão.
Triste história a dos Paiaiá, que alguns historiadores dizem ser os mesmos Marakaiá, povo guerreiro falante de um idioma do grupo macro-jê, do qual não se tem registro.
Conta-se que apenas um papagaio restou numa das aldeias como sobrevivente à extinção de toda essa nação. Ficara só, único naquelas paragens a repetir frases no idioma dos Paiaiá, desaparecidos, como último representante de uma nação dizimada pelos bandeirantes baianos.
Pousada sobre as ruínas daquela aldeia extinta, solitária e triste, a fiel ave cortava o silêncio daquelas lonjuras solitárias, monologando um idílio, naquela linguagem que ninguém mais compreendia. Era um fantasma diante do qual céleres com suas famílias, vindos do norte, também fugindo do extermínio, passavam os Kiriri, novos povoadores da região.
Extraído do livro "Arraial do Junco: Crônica de sua existência", desse escriba que vos fala.
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