terça-feira, 13 de abril de 2010

A Feira de Santo Amaro - SP - Leila Barros

De Santo Amaro



Imagine um dia de calor na cidade de São Paulo.

Agora, imagine um dia de muito calor no centro do bairro de Santo Amaro...

O asfalto parece mais brilhante de tão quente e o burburinho do lugar assemelha-se ao de uma imensa fornalha que se alimenta de ruídos, buzinas, músicas de todos os tipos e os gritos dos lojistas e ambulantes anunciando seus produtos.
Quase não dá para andar no seu centro comercial, que fica no Largo Treze de Maio.

Existem lonas espalhadas pelo chão e em cima delas podemos escolher uma imensa variedade de artigos interessantes, como CDs, meias, cuecas, calcinhas, batons, gorros de times de futebol, entre outros.

Quase todas as lojas colocam um som bem alto, os camelôs gritam o tempo todo, e ainda podemos ouvir a cada dez metros os relógios despertadores, que para chamar a atenção dos “fregueses”, ficam tocando o alarme. Como há muitos nordestinos no bairro, existe todo um universo de produtos típicos da região.

É divertido observar...

As Casas do Norte vendem queijo qualho, ingredientes para feijoada, um biscoito quadradinho e seco que só vejo nessas lojas, umas gelatinas já prontas com umas listas rosadas e brancas, fumo de rolo e outros artigos típicos. Certa vez, vi um cidadão com um carrinho de mão, desses que pedreiro usa para transportar areia e cimento, carregado de camarão seco. Encontrei também uma moça vendendo feijão verde, que ela me disse ser "feijão de corda".

A igreja da matriz está - coitada - tão velhinha e desativada... Eu tenho a impressão de que meus pais se casaram naquela igreja, que naquele tempo devia ser bonita.
Perto do centro comercial há uma Casa de Cultura e de vez em quando aparecem uns gatos pingados cantando com suas violas ou violões, alguns recitando, outros fazendo performance e ainda outros lendo a Bíblia em voz alta, como se a arte pudesse curá-los de toda carência e dureza que eles enfrentam, por morarem em um dos bairros mais carentes de São Paulo.

São eles os verdadeiros heróis, porque estão sempre sorrindo e cantando seus forrós, mesmo enfrentando a chuva, sol, calor, poluição de todo o tipo e o cansaço. E haja farofa, churrasco grego, morenas bonitas, pagodeiros e crianças com as bocas meladas de doces, sorvetes de creme. Tudo é festa para esse povo!

Salve o bairro de Santo Amaro!

E salve esse povo heróico do brado retumbante, e bota retumbante nisso, gente!

Um comentário:

Kathleen Lessa disse...

O contido nessa crônica é bem a realidade de um dos espaços nordestinos de Sampa. Dei aulas por 25 anos nesse bairro e moro num bairro vizinho: Campo Belo. Parabéns à autora! __Beijos,, Kathleen