De BBB |
Viceja entre nós, como erva daninha, uma praga perigosa que se alastra com enorme velocidade. Trata-se da cultura do atalho que, grosso modo, poderia ser resumida assim: está difícil ou custoso conseguir o que se quer pelas vias normais, busca-se um atalho. Tal prática tanto serve à mocinha preguiçosa que não gosta de estudar, mas sonha com o mundo glamoroso das estrelas, como ao político carreirista que faz alianças até com o diabo para não desapear do poder. É uma espécie de vale tudo onde os fins justificam os meios, por mais torpes que sejam. Creio que o melhor espelho dessa cultura nefasta é o Big Brother, programa televisivo que arrebanha gente de todos os estratos sociais que, como animais enjaulados, exibem-se despudoradamente naquele circo de aberrações. Em artigo memorável, publicado no Jornal do Brasil, a professora Bárbara Musumeci Soares afirma: “O que se vê é o reforço das aspirações imediatistas de conquista de fama e dinheiro. Não a fama de quem investiu na criação de algo, de quem se arriscou para salvar alguém ou de quem se empenhou para transformar alguma coisa. Nem, tampouco, o dinheiro que resulta do trabalho e que retorna para a cadeia produtiva, realimentando circuitos vitais. O que se vende, como um bem que passa a valer por si mesmo, é a possibilidade de reconhecimento fácil, de quem se torna instantaneamente famoso por desempenhar, diante de milhões de brasileiros, o papel de pessoa comum. É a atração do ganho imediato, que não requer nenhum talento, nenhuma grandeza, nenhuma capacidade, nenhuma inspiração”. Melhor definição, impossível.
Por que volto a esse tema tão repisado? Explico: o caderno Folhateen (05/04/10) trouxe estampada na primeira capa a foto de uma jovem (19 anos de idade) com a língua bifurcada, piercings e tatuagens espalhadas pelo corpo. Uma figura bizarra, para dizer o mínimo. Título da reportagem: Muito Prazer. A matéria de capa relata histórias de garotas, recém-saídas da adolescência, que “faturam com a sensualidade” em shows na webcam. Por um punhado de dólares (reais também servem), as meninas se insinuam, exibem-se e até se masturbam para quem se dispuser a pagar. Nenhuma das entrevistadas é tão pobre a ponto de necessitar de tais expedientes para sobreviver. Na verdade, buscam bem mais que os caraminguás que faturam com esse tipo de prostituição virtual; buscam os holofotes, o brilho, a fama, mesmo que seja aquela efêmera, de apenas 15 minutos, prevista por Andy Wharol. Para a psicóloga Leila Tardivo, “a coisificação de si ou do outro é um problema: o ser humano não é um objeto. Isso pode trazer consequências, elas podem ser vítimas de bullyng, por inveja ou por preconceito. A garota se expõe e pode ser vítima de ataques“.
Vai longe o tempo em que as meninas queriam ser professoras, enfermeiras, advogadas, aeromoças etc. Hoje, sem o menor pudor, meninas de classe média, universitárias, buscam os atalhos, por mais perigosos ou abjetos que sejam. O tempora, o mores!
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