Gosto de homenagear, neste espaço, músicos brasileiros. Desta vez eu festejo um bar. Um bar onde se respira música. Música brasileira; sobretudo, a música carioca. Inaugurado no dia 13 de dezembro de 1968, em Copacabana, no Bip Bip acontece, todo domingo, há mais de 30 anos, a melhor roda de samba da cidade.
Já escrevi que o Bip não é bar. É útero. Quentinho, macio e aconchegante, como imaginamos que seja o bucho da mamãe (psicanalistas mais afoitos garantem que a gente continua lá). E tem mais um ponto de identificação: de vez em quando nos deixa naquela água.
Já foi dito que o bar é o segundo lar. No caso do Bip-Bip, a serviço permanente do porre e da amizade sem fronteiras (é um tal de se esbarrar com estrangeiros perdidos entre batidas e cervejinhas), é o primeiro para muita gente boa. Tudo isto com as desconfortáveis faltas que o útero da mamãe nos faz. Existe a falta de espaço, temos a pentelhação de alguns irmãos e o desfilar maroto das “maninhas” rolando nas cantorias, o que deixa a gente com um desejo enorme de praticar o incesto. As mesas são fartas. Como na velhíssima piada, “farta tudo”. Mas sobra amor.
Músicos generosos como Chico Genu, Paulinho do Cavaco, Flávio Feitosa, Alex, Marcelinho, Manu, Ismael, Bené e muitos outros tornam as noites do Bip mais doces; são todos nossas mães. Dão colo para a alma e os ouvidos e não reclamam nem quando um rebento mais (des) mamado despenca sobre as mesas e os instrumentos.
Nas paredes do Bip Bip convivem em perfeita harmonia o passado, o presente e o inusitado.
Brilham nas paredes, repletas de fotos e caricaturas do Alfredinho, também amigos da casa e da música como Cristina Buarque (embrião primeiro e pioneiro), Walter Alfaiate, Aldir Blanc, Elton Medeiros, Mário Lago, Nelson Sargento, Moacyr Luz, Clementina de Jesus, João Nogueira, Cartola, Carlos Cachaça, Chico Buarque, Wilson Moreira, João Bosco, Naná Vasconcelos, tanta gente. Tempo e espaço se fundindo, se integrando, convivendo, convivendo, convivendo.
Se essas paredes falassem, ia ser muito bom de se ouvir. O Bip é um excelente lugar para se viver (até porque, é confuso e desorganizado, como a vida) e possivelmente seja um bom lugar para se morrer, com os gritos do dono da casa comandando o gurufim.
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