A crônica
abaixo, da escritora Susana Ventura, vem ao encontro dos meus pensamentos a
respeito da notoriedade instantânea que deram a uma escritora sem muito brilho,
por conta da necessidade que algumas pessoas têm em dar opinião a respeito de
tudo e de todos sem sequer saber do que se trata.
Entendeu uma dessas pessoas que ganham a vida imitando a arte dos outros, de reescrever Machado de Assis. De início, falou que iria atualizar seis verbetes, mas não foi bem isso que ela fez: tratou de reescrever o conto O Alienista, de Machado de Assis, e isso foi o bastante para incendiar os sites sociais e o correio eletrônico mundo afora, cada um com opinião mais estarrecedora que outra. Por causa dessa inevitável compulsão de se compartilhar tudo sem se informar a respeito, esta semana mataram uma inocente.
Entendeu uma dessas pessoas que ganham a vida imitando a arte dos outros, de reescrever Machado de Assis. De início, falou que iria atualizar seis verbetes, mas não foi bem isso que ela fez: tratou de reescrever o conto O Alienista, de Machado de Assis, e isso foi o bastante para incendiar os sites sociais e o correio eletrônico mundo afora, cada um com opinião mais estarrecedora que outra. Por causa dessa inevitável compulsão de se compartilhar tudo sem se informar a respeito, esta semana mataram uma inocente.
Quando o
assunto chegou ao Machado
A decisão
quanto ao rumo da coluna de hoje foi deixada aos leitores na semana passada. O
voto apontou que falar sobre literatura para crianças e jovens era a escolha. E
nisso estávamos quando o ‘caso Machado de Assis facilitado’
surgiu. E não é que uma coisa vai dar na outra?
Pois vai,
sim, e não é esforço de cronista tentando ‘ajeitar’ o caminho da escrita para
fazer a água vir dar ao seu moinho.
Ao surgir
o caso, via professor Alcides Villaça no Facebook e depois noticiado pela
imprensa escrita, esta cronista deparou-se com o nome de uma antiga conhecida:
a autora que diagnosticara que Machado era ‘difícil’, se dispusera a
facilitá-lo e já tinha feito o livro que seria lançado de maneira bombástica no
Vale do Anhangabaú.
Pois bem,
se prestássemos atenção na produção de literatura para crianças e jovens dos
últimos anos e lêssemos o que nossas crianças trazem para casa, grande parte
dos ‘espantadíssimos’ com a polêmica teria se assustado bem antes, e talvez já
tivesse se manifestado.
Há uns
quatro anos ‘estava linda Inês posta em sossego’ na cadeira do salão de
cabeleireira de seu bairro, quando o barbeiro que corta cabelo na cadeira ao
lado comentou:
- ‘Deram
um livrinho lá na escola da Vanessa hoje. Bonitinho, viu? Você quer dar uma
olhada e me dar sua opinião?’
(Sim, e ele
faz isso sempre. Mostra os livros de literatura, conta dos que ela traz da
biblioteca, pergunta sobre compras de livros em ocasiões festivas. Trocamos
impressões. É pai que não estudou muito, mas que acompanha de perto os dois
filhos na escola pública, a menina no Fundamental).
Então,
ele me passou um belo livro infantil, impresso em 4 cores, papel couché, com as
ilustrações refinadas de uma artista plástica conhecida, projeto gráfico
interessante.... Prometia!
Ali
mesmo mergulhei no livro. E saí do mergulho arrasada. O livro -
patrocinado por um fabricante de amido de milho - contava com um dos textos
mais lamentáveis em que eu já pusera meus olhos. Um verdadeiro horror. Baseada
na necessidade de falar do amido de milho, a autora cometera uma história mal
escrita, com personagens incoerentes, enredo inverossímil e que, em termos de
linguagem, era de uma indigência única.
Fiquei
triste mesmo. Aparentemente tão ‘boa intenção’ para tão lamentável resultado.
Marquei o nome da autora e, dias depois, fui conversar com uma editora da
área de literatura infantil:
-
‘Ih, ela de novo? Ah, é sempre a mesma coisa, ela faz livros para empresas,
sempre mal escritos, um horror, não é? Para renúncia fiscal, sabe? Capta
dinheiro via lei de incentivo...’
Adivinhem,
caros leitores? Sim, é a mesma autora. Só que agora ela chegou ao José de
Alencar e ao Machado de Assis. E por isso foi notada. Nem vou perguntar
como continuamos a conversa, porque esse papo vai longe!
*Susana Ventura é doutora em Letras pela Universidade de São Paulo, professora do Ensino Superior e autora de ficção, ensaios e obras para formação de professores.
*Susana Ventura é doutora em Letras pela Universidade de São Paulo, professora do Ensino Superior e autora de ficção, ensaios e obras para formação de professores.
2 comentários:
Querido Tom Torres,
Muito bom estar no seu blog.
Beijos,
Susana Ventura
Que é isso, minha fulô de açucena! Quem agradece sou eu.
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