Ele estaria fazendo cem anos redondinhos em
maio (dia 28) de 2013. O grande cantor que nos deixou há quarenta anos (também
redondos, em 13 de julho de 1973), jamais deixou de ser lembrado: por quem o
viu cantar, por muitos que só conheceram sua voz bem depois, das gravações, e
também pelos jovens intérpretes de samba – os que perseguem a linhagem nobre
dos belos intérpretes, onde Cyro (aqui
no traço de Amorim) pontificou depois seguido por nomes como Roberto Silva,
Roberto Ribeiro, Walter Alfaiate, Emílio Santiago e tantos outros bons canários
da terra.
O Formigão – apelido que ganhou dos amigos
e que carregou pela vida inteira – virou cantor por influência de um
tio, o maestro Nonô, e o primeiro sucesso pipocou em 1938, quando gravou Se acaso você chegasse (que ele chamava
de “meu hino nacional”), criação imortal de um compositor gaúcho também
iniciante chamado Lupicínio Rodrigues. A
voz suave e encorpada, cheia de ginga, bailando na síncope musical, caiu feito
uma luva para os compositores de sambas. Daí em diante vieram gravações
espetaculares de obras de Roberto Martins, Mário Rossi, Ary Monteiro, Wilson
Batista e Cyro Monteiro conquistou definitivamente o Brasil em 1942, com a
gravação do samba Falsa baiana , do
mangueirense Geraldo Pereira, compositor de quem veio a gravar depois inúmeros
sucessos, sendo o maior deles o malandríssimo Escurinho.
Flamenguista dos mais apaixonados, Cyro
Monteiro tinha o hábito de presentear com uma camisetinha do clube do coração
cada filho de amigo que nascia. E sentia prazer especial no gesto quando o pai
torcia por outro time do Rio de Janeiro, como foi o caso do compositor Chico
Buarque. Torcedor do Fluminense, Chico foi presenteado com o manto sagrado do
Mengão quando nasceu sua primeira filha e devolveu o mimo a Ciro com um samba
lindo, chamado Receita para virar casaca
de neném (“Amigo Ciro/Muito te admiro/Meu chapéu te tiro/Muito
humildemente. Minha petiza/Agradece a camisa/Que lhe deste à guisa/De gentil
presente/Mas, caro nego/Um pano rubro-negro/É presente de grego/Não de um bom
irmão...”).
Boêmio de boa estirpe e carioca em tempo
integral, Cyro gravou obras-primas como Beija-me (Roberto Martins e Mário Rossi, 1943), Botões de laranjeira (Pedro Caetano), Meu pandeiro (Luiz Gonzaga e Ary
Monteiro), Rosa Morena (Dorival
Caymmi), O amor e a rosa (Pernambuco
e Antonio Maria), A mesma rosa amarela (Capiba
e Carlos Pena Filho), Emília (Wilson
Batista e Haroldo Lobo), Filosofia
(Noel Rosa), Izaura (Herivelto
Martins e Roberto Roberti), Jura (Sinhô)
e Rugas (Nelson Cavaquinho, Augusto Garcez
e Ary Monteiro.
Como escreveu um dia Vinicius de Moraes,
Cyro, homem de muitas e boas camaradagens, tinha “a vocação da amizade”. Por
isso vive até hoje na memória de seus amigos; inclusive daqueles (que nem eu)
que nem sequer o conheceram.