Era uma vez, numa história sem rei e sem grilos falantes, um cidadão chegou na casa de um compadre para uma visita de dois dias e se estabeleceu a longo prazo. Foi ficando, ficando, ficando, na maior cara de pau, e o compadre se incomodando, a mulher do compadre se chateando, os filhos do compadre reclamando da falta de espaço - até o cachorro do compadre parou de balançar o rabo - mas ninguém tinha coragem de mandar o cidadão embora.
terça-feira, 1 de dezembro de 2020
Fábula moderna com moral da história
quinta-feira, 15 de outubro de 2020
A quadrilha periódica
domingo, 6 de setembro de 2020
Independência ou morte
domingo, 30 de agosto de 2020
Seis anos sem Ariano Suassuna
Na bienal do Livro de Brasília, em abril de 2014, Iara Maria Ramires Melo, Marcelo Torres, Maurício Melo - pai do Maurício Melo Júnior - e eu, paramos numa birosca pra fazer um lanche. Lamentávamos não haver mais convites para a palestra do Ariano Suassuna, um dos homenageados da bienal. De repente parou uma senhora, nos olhou e perguntou:
- Vocês querem dois convites
pra palestra do Ariano Suassuna?
Como não querer?
- Claro que queremos!!!
Ela nos entregou dois
convites. Iara explicou a Marcelo como me entregar a domicílio - eu era hóspede
do casal Melo - nos despedimos e saímos
correndo. Estava em cima da hora.
Atravessamos uma daquelas
pistas imensas e movimentadas (segundo Marcelo é a maior do mundo, mas tive
minhas desconfianças porque esse meu primo já chegou achar que o Junco era a
melhor cidade do mundo pra se viver) nos arriscando a sermos atropelados e
chegamos a tempo de sermos os últimos da fila.
Lá dentro, uma multidão.
Faltava chão para sentar. Descemos as escadas - pisa daqui, empurra dali - e
paramos na segunda fileira das cadeiras. A primeira estava bloqueada. Sentei no
colo duma dona e Marcelo escolheu o colo de um paraibano que disse matar e
morrer por Ariano. Mas foi coisa rápida, não deu nem pro meu primo esquentar o
colo do cidadão: dois caras sentados na segunda fila eram ôtoridades do governo
e foram chamados para fazer parte da mesa. Assim, antes que alguém tomasse a
dianteira, Marcelo e eu invadimos a ala vip e ouvimos a palestra de primeira
classe. Ou melhor: de segunda fileira.
E foi mais de uma hora de
êxtase pleno. Pena que não haverá mais Ariano para alegrar a monotonia de
palestras de bienais e feiras de livros.
segunda-feira, 17 de agosto de 2020
O despertar do poder feminino
domingo, 16 de agosto de 2020
Fatalidade
Nem só de Covid 19 se morre hoje em dia:
- Coitado do nosso amigo Alceu, morreu de catarata!- E catarata mata?
- A do Iguaçu, sim. Despencou lá de cima.
Uma short history de uma short history
Quando eu fiz quinze anos a minha mãe me perguntou:
A difícil missão de se ser coroinha
O mar em nós
Um dia ele me levou pra ver o mar. Saído de um lugar que não tinha água, meu deslumbramento foi tão grande que pedi a ele:
Não se faz mais cavalheiro como antigamente
Ele vê uma mulher perfeita desfilando pela calçada: corpo escultural, sensualidade de ninfa e quando ela deixa cair o lenço dois passos adiante, ele diz:
Ato de confissão
"Eu pecador, me confesso ao padre..."
Como confessar ao padre certas iniquidades que fazia trancado no banheiro e não confessava nem sob tortura de minha mãe? Como confessar a um estranho, mesmo se dizendo representante de Deus, que havia segundas intenções quando levava a jega para comer milho no barranco? Ora, se Deus é onisciente e onipresente, então para que confessar a um dito Seu representante tudo aquilo que Ele já sabia?
E foi com esses pensamentos que me ajoelhei no confessionário no ato da primeira comunhão. E falei daquilo que devia falar: da minha mãe que solava meu lombo com o cinto do meu pai por causa do arengueiro do meu irmão mais novo; dos cascudos que levava do meu irmão mais velho porque não me submetia a ser seu escravo; do pão que o Diabo amassou que eu tinha que comer todo santo dia.
Se segurava vela, apanhava do namorado da minha irmã; se relaxava, apanhava da minha mãe. Era uma vida sem muitas opções. Não sei se o padre entendeu, não sei se Deus me perdoou. Sei apenas que levei uma surra memorável da minha mãe para não desdenhar das coisas sagradas e mastigar a hóstia consagrada como se estivesse comendo um sanduíche da McDonald’s. Não sei de onde ela tirou essa ideia se naqueles tempos não havia McDonald's.
Ai se ela descobre que o catecismo que eu lia era o do Zéfiro!
sexta-feira, 7 de agosto de 2020
Perdidos e achados em Brasília I
Em uma noite de Primavera de 1985 três perseguidos políticos do polo petroquímico de Camaçari vagavam pelos bares das cidades satélites de Brasília. No último que entramos, perguntamos se havia "folha podre". Um moço que bebia ao pé do balcão nos olhou curioso e disse:
- Esse negócio de folha podre é coisa de baiano.
- E somos - respondi.
Travamos conversa até a madrugada. Ele era caminhoneiro e estava indo para Vitória da Conquista. Nós estávamos acampados na Fetag, no Núcleo Bandeirantes, com mais oitenta companheiros em busca de reparação política. A ordem era pressionar os deputados. Afinal, o sindicato representava mais de sessenta mil trabalhadores e era a menina dos olhos dos políticos em tempo de eleição.
- Eu deixo vocês na Fetag.
Aceitamos. O dinheiro era escasso. A ditadura assaltou nossos direitos. Entrei na cabine com o companheiro Marins. O outro subiu na carroceria e se meteu debaixo de uma lona para se proteger do frio.
Chegamos ao nosso destino, descemos e agradecemos a carona. No outro dia, na fila do café, outro colega nos perguntou:
- Sales não saiu com vocês ontem?
Olhei espantado para Marins. Esquecemos de acordar Sales e pelo andar da carruagem ele já devia estar bem longe.
quarta-feira, 5 de agosto de 2020
Medo ou respeito?
Uma escolha difícil
Sem sinal
- No presídio!