sábado, 30 de maio de 2009

O CAMINHO INVERSO DA ARRIBAÇÃO NORDESTINA

O Nordeste sob a ótica de uma criança carioca que passava suas férias em Catende, cidade do interior de Pernambuco, um pouco mais perto da capital do que o arraial do Junco (mais ou menos 180 Km de Recife), mas com seus hábitos e costumes tal qual aos da cidade do interior baiano. Esta saga, escrita por Maria Helena Bandeira a pedido deste escriba que vos fala para o blog Tom e Amigos, parou no terceiro capítulo devido a problemas que não vem ao caso, mas aqui está a publicação completa, ou seja, os sete capítulos da saga de uma família no interior pernambucano cuja cidade, se colocarmos o nome do arraial do Junco, ninguém haverá de sentir a diferença devido à mesma identidade cultural. Além do blog Tom e Amigos, outras prosas e poemas de Maria Helena Bandeira também podem ser encontradas em:



A Saga de Catende

Capitulo Um - Novo mundo
Acostumada a ser mimada pelos pais na cidade grande do Rio de Janeiro, a menina de nove anos ainda incompletos, chegou assustada a Catende, no interior pernambucano, levada pelo avô, Seu Cordeiro, um homem alto e amável, de olhos verdes. 


A casa do gerente da Usina era grande e ladeada por um jardim. Nela se abrigavam, fugidos das tempestades econômicas da vida, várias filhas com seus maridos e netos, além de tias solteironas e agregados. O lugar ideal para a garotinha cujo pai tivera que fugir dos credores, indo para São Paulo e emprestando os filhos numa diáspora cruel. Seu nome era murmurado em críticas veladas, mas não o suficiente para que não percebesse o veneno.
Pior foi conhecer a temível Don’Ana, que nunca aceitou ser chamada de avó. Para todos foi sempre Dindinha, mesmo quando nenhum batizado autorizasse este tratamento. Era uma mulher baixa mas forte, de olhos puxados e estreitos, muito azuis, com uma inteligência penetrante. As maçãs salientes, denunciando a ascendência holandesa, e a boca firme completavam o retrato desta mulher que governava a família e a casa com mão de ferro.

Dindinha não desperdiçava beijos nem afagos, era seca e cortante. Mas seu coração generoso permitiu que sempre houvesse mais um comendo e vivendo às expensas do marido. Brilhante, embora sem estudo, criou um método matemático para ganhar no jogo do bicho e não perdia nunca. Fazia também cruzamento de flores - cravos e cravinas - no jardim que era sua paixão. Usando salitre do Chile e métodos diversos, conseguia espécies diferentes, de pétalas lisas ou ásperas, de vários formatos .

Na falta de acomodações disponíveis, a menina foi designada para o quarto das rezas, onde ficava o oratório, lugar sempre presente nas casas nordestinas do interior. Ainda assustada, sem entender bem o que lhe acontecia, colocou numa cadeira a pequena mala com tudo que ainda tinha de seu no mundo e se preparou para descansar da desgastante jornada de trem pelo interior castigado e quente.

Uma cama de vento fora arrumada de improviso naquele lugar de oração e apesar dos seus desgostos e da estranheza do aposento, a infância venceu o medo e ela dormiu.

Acordou assustada com um apito estridente – era o anúncio da escuridão. Logo depois, a luz do gerador que iluminava a cidade foi cortada e um cheiro acre e desagradável veio da direção da Usina - nunca identificou porque, mas aquele cheiro desagradável foi o acompanhamento constante do apito e do corte da luz por todo tempo em que permaneceu na casa dos avós. Mais de dois anos.

E o pior veio depois. Apavorada com o súbito negrume, ergueu os olhos para o alto – a única coisa brilhante eram as pupilas de vidro dos enormes santos que olhavam todos para ela com malévola fixidez.

Passou o resto da noite acordada, vigiando seus companheiros de quarto. De manhã, mal os primeiro galos cantaram a alvorada, ouviu barulho no jardim. Levantou-se curiosa e caminhou em direção a ele. Ficou atônita com o que viu, mais apavorada do que nunca.

A menina criada no melhor colégio do Rio, de freiras alemãs e moralistas, viu a avó, a imponente Don’Ana, arrebanhar a saia rodada de sua bata comprida e, de pernas abertas, urinar, regando os canteiros de seu jardim predileto : chuaaaaaaa!!!!!!

Foi uma das primeiras e mais marcantes imagens de sua longa estadia no Paraíso e no Inferno particular em que se tornaria aquele casarão no distante sertão de Catende.

Um comentário:

Anônimo disse...

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